sexta-feira, 27 de março de 2015

Acaso?

Não, eu não sou profissional
Tampouco intelectual
Nem experiente
Não sou versado em nada
Nem especialista em coisa alguma
Não tenho dinheiro
Não sou útil

Pouco ou nada
sei
do meu futuro
não faço faculdade
Deixei as minhas escolas.
Não tenho fundo de garantia
Não pago INSS
Só faço compra em fim de feira
Quando algo me resta

Não tenho perspectiva
Não faço academia
Não quero ter carro
Não moro com família
Não tenho livro lançado
Nem nada comprado
Não tenho propriedade
Ou coisa alguma em meu nome

O que te resta então?
Poderíeis perguntar
É aí é que ta!
Qual a origem desse perguntar?
Acaso sou o que tenho e fiz?
Acaso existo apenas se deixei marcas?
E se eu não quiser me mostrar?
E se eu desistir do que eu me espero de mim?
E se eu quiser trocar o rumo e ter o direito de fracassar?
Poderá alguém (mesmo eu) menosprezar-me?

O que você faria com as qualidades acima?

Não digo 
por
que 
optei
Divido o que consideras fracassado
para que reavalies o que deve ser julgado.

domingo, 22 de março de 2015

Flores

Hoje eu tive a sensação de que minha vida está chegando ao fim
Mas o que acontecerá depois?
Como será o mundo sem mim?
Será que não sou mais útil?
Talvez a Lei não me queira mais
Talvez eu não tenha jeito
Talvez eu não deva continuar aqui
Eu não mereço continuar aqui?
Jesus
nunca achei que teria tantos questionamentos na morte
E eu descobri uma coisa interessantíssima
com essa ida e vinda reflexiva
eu 
não 
quero 
morrer
!!!
uau, nunca achei que diria isso!
Mas eu realmente não quero morrer
Me apeguei a essas pessoas daqui
me apeguei a vida que tenho
Cansei de ficar sozinho
eu quero encontrar o país dos beijos, dos abraços
dos carinhos
das pessoas e dos momentos alegres
dos BONS momentos
dos BONS lugares
dos BONS
me apeguei à Terra
e ao conhecimento disponível nela
e aí eu descobri também que eu amo os meus amigos
que eu amo os filmes que existem aqui
e toda a arte terrestre
que eu admiro os que amam
os sensíveis
os fortes
os fracassados
a música
o teatro
a dança
o circo
a literatura
amo tudo tanto que não quero me desfazer da possibilidade
de senti-los na alma
amo a rebeldia
amo a ordem
a ignorância
a sabedoria
amo os opostos
os iguais
o certo
o errado
amo o que está além disso
pra chegar à conclusão de que o que eu amo mesmo
são as ideias

Agora já não tenho mais certeza de que meu corpo está chegando ao fim
talvez alguma coisa aqui esteja morrendo
e pode morrer
o que me faz descobrir a beleza da vida
tem tanta beleza como ela
a beleza da morte
ah, a beleza da morte
que desencadeia uma série de crescimento e expansões
de tão macabra é iluminada
e, 
poxa,
já nem sinto mais receio de morrer
pois amo até a morte
a dos outros
a minha
as mortes todas
pois são aspectos da existência
maravilhosa como a vida
diversa e infinita

se for para morrer
que renasça
se for para renascer
que morra

sexta-feira, 20 de março de 2015

Áries

Cavaleiro armado de impetuosa ousadia a se destacar do Todo
por ordem do Todo
mesmo inconsciente de quem quem é
é!
Movido pelo Fogo Primordial da Criação
o impulso da vida
o yang
cheio de yin
o combatente agindo contra as forças do mal
o aprisionador de éguas
incendeia o metal com seu Poder Criador
e forja na Chama sua espada e seu escudo
Cavalga, cavaleiro
sempre em frente
age
faz
irrompe
És Fogo Sagrado
És Chama de Vida
És Criador
És o Primeiro
És o Um
Que quebra as cristalizações nos chifres da fronte
e guerreira contra o que se impõe em teu caminho.
O objetivo?
Agir!

quinta-feira, 12 de março de 2015

Aldeia

O que eu sinto
o que eu penso
não são menos do que
o que você é
o que você pensa
somos feita mesma Essência
meu coração é o seu
nossas mentes estão unidas
e o nosso corpo é feito dos mesmos átomos
de que é feito o Sol
Por que então é egoísmo falar de mim
sendo que falo de ti também?
Falando de mim
falo do humano
escrevo, portanto,
a história da humanidade
Estou em todo lugar
porque estou presente
nunca me esquecerão,
posto que nunca existi
bem como
a ti!

quarta-feira, 11 de março de 2015

posso

Posso ser poeta se eu quiser
?
só por ser
só pra ostentar 
a deliberada poética do ser
como quem guarda um diploma de faculdade
e prega na testa pra todo mundo ver
?
Ou é preciso
MORRER
pra escrever por
NECESSIDADE
inda
DIZER
que faz assim pra:
- ser
- ostentar
- pregar na testa o drama que carrega a poesia
mas que a poesia não carrega
?
O que é ser poeta, afinal
?
É produto 
é material
ou é estado de ser
?
É preciso materializar a poesia
para ela ser concreta
?
E se eu não quiser ser concreto
?
e se eu não quiser materializar
?
Serei poeta ou serei latência
?

Serei poeta
!
filósofo
!
palhaço
!
astrólogo
!
serei a Madonna se eu quiser
!
(e ninguém venha me falar que não)

serei a
latência então
poetisando pra poetisar
dando olhos à vida
pra que mais que sobreviva
seja vivida
e vívida.

canto

Estou descobrindo
aos poucos
como uma flor que desabrocha
onze horas
que

o demônio

que me habita
as profundezas
é
na verdade

o deus.

terça-feira, 10 de março de 2015

meu Espírito na Matéria

Você não vai me ver na fila do frango de domingo
nem me drogando nas praças
(que é quase a mesma pacacidade)
nem reclamando do emprego
e gozando do salário.
Vai me ver mesmo é preocupado em materializar-me
e não em enterro de parente
ou em cervejada de amigos.
Vai me ver atrás de um grande amor
e de um projeto que valha a pena
e não entregando currículos.
Tampouco desprezo quem o faz
cada um escolhe como trazer seu Espírito
como vive da Alma
o que traz na Mente
o que faz com o Corpo.
A mim interessa a materialização do Espírito
e a espiritualização da Matéria.

domingo, 8 de março de 2015

só pra ver a chuva

Hoje caiu uma chuva tão bonita
não que as chuvas não sejam todas bonitas
mas a de hoje estava especial
consistente
dessas que você sabe que não vai parar tão cedo
porque o céu está decidido a chover
Eu parei com tudo o que fazia só pra ver a chuva
(menos escrever)
parei meditação
parei oração
parei o sexo
parei o cigarro
parei de comer
de beber
de contar
só 
pra
ver
a chuva
que caía em gotas coreografadas
multicoloridas
o céu estava cinza
os prédios, a rua, os carros
tudo 
através do véu cinza que sacudia as árvores 
e as poças dela mesma 
nos buracos do asfalto
O sol não veio
não só ele

sexta-feira, 6 de março de 2015

samsara

rodante ciclo evolutivo
vertiginoso
de videmorte
correndo a quilômetros por hora
minuto
segundo
milésimo
quebra a estagnação só por existir
e mesmo parado no tempo
veloz no espaço
obriga o sangue a trafegar
os órgãos a pulsar
e a cabeça a trabalhar
(mesmo se não trabalha
atuando no tempo está)
faz o mundo balançar
o Universo dançar
e o Invisível se revelar
apesar de em tudo estar
e a gente nem notar
porque estamos a rodar
a rodar
a rodar
...

Descem-se 
em espirais ascendentes a 
inspiração rodante que 
como (só?) ideia
flui