segunda-feira, 25 de maio de 2015

dedo de deus

Tenho a alma arretada
e o espírito arredio
foram vidas sendo
certo
vidas me preparando
para agora 
e destruo mundos
agora e não mais
não menos
destrono reis
rainhas
quebro coroas
tronos
incendeio reinos
castelos
palácios

templos

tiro deus de cima
e o busco nas profundezas
encontrado livre
livre para ser o que eu descobrir
dentro
tempo
processo
cada 
coisa
de
cada
vez
breve
e
longo

Enquanto
meu corpo é uma festa
grita de prazer
pelo que 
tanto foi
considerado pecado
e olhando para trás 
eu diria que fui levado pelo diabo
mas presentemente
vejo Netuno
dissolvendo as estruturas
trazendo a fé
para um futuro que é só
nuvem
nuvem carregada
nuvem densa carregada
que um dia
quem sabe
desaguará

E amaciará 
a peregrinação por esse 
abismo/deserto
cego
sem rumo em que 
confiar é preciso
guiado por uma sabedoria que desconheço
mas que habita
e sabe mais
muito
do que eu
e tardiamente cedo
cedo porque sim
me faz 
viver
e
ser
sem querer

domingo, 17 de maio de 2015

Essa busca...

Eu vou louvar a Deus nas boates
nas periferias
no bruto barro da incerteza
nos becos sem saída
nas maiores furadas

Vou ritualizar no meio da rua
no meio do carnaval
às cinco da manhã
de ressaca
Cantar glória a meia noite
sóbrio de amor
e só me ajoelhar
pra dobrar a barra da calça
e me jogar sem tropeçar
na festa profana do aterramento de qualquer 
luz

Sem Aff Maria 
sem Pai Nosso
sem sinal da cruz
sem disciplina
sem nobreza
qualquer
vou encontrar Deus
na primeira esquina
e me embebedar Dele e com Ele
como o sangue de Cristo
que foi derramado 
como aquele leite do lamento
que foi desperdiçado 
como cerveja
chorado 
como um boteco

Vou acender vela 
pra queimar essa petulância castradora chamada Livro Sagrado
e a única coisa que ela vai iluminar
será o pires em que se apoiará

Pois 
quem muito procura Deus não o encontra
Quem muito procura Deus não se encontra
Para ver a luz é só apertar o interruptor
e aquilo que está Alá não está aqui.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

contra-dança

me
rebelo contra mim
contra 
os contras que fiz ao mundo
contra
tudo o que acreditei
contra 
os contratos falidos
contra 
os mortos
contra 
os vivos
contra 
os deuses que criei
tudo
é meu
e contra 
mim
a esse tudo 
não só viro as costas
como viro a mesa
viro a casa
viro revolução
destruo
tudo
destruo 
o universo 
criado
contra
dança
sobre os cacos
danço
em nome 
da liberdade
essa é a minha 
religião.

terça-feira, 5 de maio de 2015

desamargura/desapego

Foi embora
mas largou as reticências espalhadas em mim
e por outra boca
eu soube 
do teu futuro
e os nossos póstumos encontros só
ficarão na memória
ficarão (?)
ou virarás um passado tão pretérito
como os outros 
que vez ou outra batem às paredes da minha memória
só pro meu prazer?
Tocas então o fagote
que da minha orquestra você já saiu
antes mesmo do primeiro adeus.
Deu a deus 
derradeiro (?)
o meu pandeiro
o meu violão
o meu batuque

que
não avisou
não viu recado
nem deixou
e eu aqui 

mendingando...

Você veio
e foi
veio
e foi
veio
e foi
e este mês
você veio
você foi
vo

foi
e eu
prefiro assim.