quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Se é o que é não sido

Onde é que mora a liberdade que está presa?
Pudera eu arrancá-la
nem que fosse por entre o ferro das grades
manchando o chão de sangue
mesmo que fosse sangue!

Por que se fala obsessivamente daquilo que não se tem?
Gente que acha
e que busca
o que se é
Na verdade se é aquilo que não se é!

Na verdade é tentativa

A verdade é relativa

Discurso passado.

Somos muitos
Muito que somos somos nada

Com s

Se todos são
somos todos esses todos
que são o que são e o que não gostariam de ser
Nunca o que sempre é
Se é que há um sempre!

Onde é que está a liberdade
com tantos rostos aprisionados/ aprisionadores que olham feio
à gota de orvalho que cai fora do lugar?

Ou a liberdade ta dentro?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Materialista

Ali habita um ser humano
debaixo da capa
dissolvido na tatuagem
sob a corrente
coleira
colar
pulseira
pulsa
uma veia que conduz sangue
vermelho
de espinha
de cravo
furúnculo
tumor
ferida
cratera
dentro tem matéria
humana
há no sapato
salto
tênis
chinelo
um pé
ou tem só o
com dedo
sem dedo
com
sem
há!
um coração
mente
espírito
tem dor
tem delícia
estupidez
inteligência
arrogância
humor
depressão
ignorância
a ruga nasce na pele
sob a pele
músculos
e ossos
fracos
fortes
quebrados
ossos
do ateu ao iluminado
do limpo
ao adicto
do estudado
correm lágrimas
do atleta ao paraplégico
tem um cérebro
funcionando
ou não
há!

mais do que o espírito
mais que a
alma-universo-rede
ou Invisível
o que nos une
é a matéria

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Flui

flui
se
a liberdade por entre os dedos
sopra
a mudança em buscadela
acontece
se se está fora de si por poder
ser si mesmo que flui no que se quer
busca
se
a utopia que empurra
conquista
liberta-te de ti
e
flui

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Rastros

Enquanto todos desfrutam em suas copas a manhã, 
           você não me olha sol, 
               você me olha nos olhos 
e me deseja tão profundamente, 
                           que eu nado para a sua embarcação por vontade própria.

E então, 
quando a luz começa a se despedir deste hemisfério 
e todos tocam a cantoria da história do espantamento dos males
,
você não me olha música
,
você me olha alma
me canta na telepatia
,
e eu percebo no olhar que queima a nuca.

Por fim, 
no brilho da lua branca e formosa, 
enquanto todos consagram do fumo colhido em árvore, você 
não me olha vagalume, 
você me olha humano 
me traga tão apaixonadamente que eu me entrego a este novo 
a este novo que tem cara de reinício, 
                                                                                               a este delicado encontro que cura e 
que, 
com ares de amor, 
me ensina mais que qualquer professor, 
e eu
me torno a própria natureza, 
sol
lua
estrela
cachoeira, 
andando róseo pela rua. 
Te desejando profundamente e esperando um dia chegar à sua altura.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Transformação

Está tudo trancado, atravessado de tudo, trincado, travado, intrinsecamente parado, esteticamente entulhado de tinta. Tudo é branco. Tudo é límpido, mas treme por dentro, treme sem tremer. Não há estrondo, só há tensão, intensificada pelo tamanho do tédio. Então, tenebrosamente, bate a brisa que entra testando as traças da parede e arrebentando os vitrôs, volitando as cortinas, entristecendo o calor. Tudo então estoura, sem nem poder tentar continuar a ter a si. O vento faz voar os estilhaços, sem censura alguma, sem rumos, sem saco, suavemente, a casa sai caindo, e não sobra som nem seixo. Tudo o que era, se desfez e virou nada. Nada a ver. Nada está. Nem tranca, nem nada. Só o todo.