sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Caledicências

Hoje eu tomei café na praça
pra escapar das paredes que encerraram
os pecados que cometi noite passada

Tirei a roupa manchada
A coberta emprestada
e saí

Saí pra suportar e refletir
nada está errado
mas nem tudo está certo

Tomei o leite que derramei
tomei
o pão que o diabo amassou
tomei
as uvas da luxúria e do amor
tomei
o bolo que bati
tomei
bolacha na cabeça
e to tomando

Desisti de assumir o erro que desisti de achar errado
Hoje eu tomei café na praça e
(percebi)
não tem nada ao contrário.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Terceira

O chão é
o piso
oprime
opressor
a base
abraço
terrestre
denso
plano terrestre
massificado
mil, três, um
o que me importa?
Meu chão é branco
distração é clara
solidão é rara
mas sozinhez
não
por mais sozinho que se esteja
sempre se está

ou
não
sempre se está
se está?
se está está
na massa
não está
não estando na massa
se está
ou seja
estando ou não
se está no chão
no vagão da Terra
no plano chão
sozinho
ou não.

Quem disse?

O barulho das enxadas batendo
Retira a vida que não pode existir
Vida comentada entre quem tira
Vida própria
retirada da propriedade
colocada sobre rodas
vai pra onde tem que ir
pr'onde dizem que tem que ir
no gemido
na batida
no engasgo
levam a vida para longe
pra onde tem que ir
pr'onde dizem que tem que ir
para o chão sempre estar
sobre o teto de limpar
limpando o concreto
só deixam o chão chegar
e chega porque tem que chegar
porque dizem que tem que chegar
pois é melhor que a enxada tire a vida
que a si mesma
porque tem que ser assim
porque disseram que tem que ser assim.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fragmentações

Às vezes é muito difícil segurar as rédeas que eu coloquei na fera que me habita. Já cansei de me surpreender com vontade de pular nas costas do bicho e deixar ele me guiar pra onde o ímpeto levar, sei que, por um lado, não estamos sozinhos. Mas parece que há algo aqui dentro que me faz manter as mãos bem seguras nas rédeas, mesmo quando eu as afrouxo com um pensamento ou vontade. É algo que, através de combustíveis bem escolhidos, aperta as minhas mãos na corda feita de minhas tripas e sussurra firme nos ouvidos da minha alma:
- Segura isso aí! - na esperança de que isso uma hora acabe.
Quanto mais eu seguro, mais me sinto forte.
Mas, se e eu solto esse bicho e monto nele, por outro lado, sei que é capaz de ele nos jogar de um despenhadeiro: lugar que deixou de me atrair desde que descobri que coisas assim não fazem um fim.
O bicho, então, segue se impelindo.
O homem, contudo, resiste.
E eu
escrevo
para que as palavras ninem o animal
e me permitam entender alguma coisa.

?

Não tenho a menor vontade de fazer nada neste momento
só parar
não fazer nada
mesmo sendo difícil
paralisar
até que a única coisa que se mova seja a corrente sanguínea
e o planeta Terra.
largar tudo
largar todo
desistir
sair de onde estava
mas onde estava?
para onde ir?
quem disse que desistir é ruim?
até onde é útil
e
saudável
fazer aquilo que te dizem que é o melhor pra você?
E até onde é útil
e
saudável
ficar se julgando rebelde
e se colocar no lugar em que
acha
que deveria estar?
Onde é que se deveria estar?
Quem sabe onde é que se deveria estar?
Talvez...
talvez!
... estar perdido é onde se deveria estar!
Será que há de se desgarrar
do que se pensa
para evoluir e seguir
à partir daquilo que se pensa?
Cansei de achar que estou ferindo a lei do universo
É impossível ferir a lei do universo
encarnado NESTE planeta...

sábado, 7 de setembro de 2013

Libertação

Frustrante e libertador
é
descobrir o fato de que
meu ser
metódico
e
(ao mesmo tempo)
negligente
não da conta de
toda
a organicidade da vida.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Risco

Desinteressou-se daquilo diante do divino. Mesmo com o vento xilicando as penas e os raios iluminando os pequenos olhos, cansou-se desse tédio e deixou de voar.
Enquanto o ar chicoteava sua barriga, uma sensação de que não deveria estar fazendo aquilo lhe apoderou.
Mas o que podia fazer? Ele não queria mais! Era como se este mundo, que há tanto lhe pertencera, já não o oxigenasse. E então, ora, não poderia deixá-lo?! O que poderia encontrar lá no chão? Viver sob duas patas? Rastejando? 
Sabia que a dificuldade de partir de si mesmo vinha de um açúcar cristal que se oroborava em si havia anos. Mas o que os anos querem dizer?! Os anos querem dizer?! Como saber qual a hora de mudar?!
Será? Será? Será?
Será isso?
Será aquilo?
Voltar pro ovo é que não seria.
Será?
O chão então se materializou diante de seu medo e, no último instante, alçou voo. 
Perdeu mais que uma unha na aventura.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Dualidade

Por que se escreve bem
quando se está mal?
Por que na dor se manifesta
a festa da criação
onde vômito é palavra
sombra é matéria
e cegueira é miração?
Está tudo respondido neste exemplo de desequilíbrio
Revelado o mal
útil
vira luz
Excruciante
Expurgante
Poesia é, 
pois,
laxante.

Extremos

Descobri que
encarnado neste planeta
se EU soubesse de tudo
seria, 
no mínimo,
um arrogante
e,
como arrogância não combina com sabedoria,
conhecedor de tudo eu seria
um ignorante.