segunda-feira, 30 de maio de 2016

em andamento

Tilapiando informações
faço jorrar canções
e expurgar
como quem espreme uma espinha gigante
todo temer que se alojou na coluna
os fora dilma dos pulmões
e os vai trabalhar, vagabundo que entopiam veias.
Que poeta sereno
num país perigoso
onde quem tenta
morre
quem protesta
apanha
quem rouba
faz?

um poeta doente
de poesia doente
que versa sobre a doença

o poeta esperançoso
que fala dos ciclos
do corpo
primeiro
do corpo
timoneiro
do mundo
do corpo
do poeta mundo

se regenera das chagas
que adquiriu

Eu tava la e vi
sair de dentro
o sangue estancado
em anos de repressão
vi sair na agulha
os fantasmas do medo
da insegurança
da liberdade estagnada
e agora é o corpo
um campo
onde a saúde e a doença
convulsionam

É o meu corpo
estranho pra mim
nasci aqui e quero fugir
me rebelo
vejo-o em domínios trevosos
cancerígenos
agentes
(políticos?)
sugam o que foi duramente conquistado
por anos

esse é o lugar onde cresci
e querem tirar de mim
de nós
esse corpo
esse mundo
que
como ninguém
precisa de tratamento

assim,
quem sabe,
eu possa me sentir país
me sentir corpo
me sentir alma
me sentir espírito
me sentir eu
me sentir você...

domingo, 29 de maio de 2016

fim de outono

vivemos tempos difíceis
algo acontece
levantou-se o véu
e
em que parte do caminho me perdi?
que lugar é este
onde estou?
quem me colocou aqui?
algo terrível está acontecendo
e é melhor não se afastar
da luz que brilha no peito
que é a luz do universo
mas que agora é tão pequenina
que é normal desanimar
entra o inverno neste hemisfério
e é tempo de se recolher

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O que eu busco ainda não inventaram palavra pra categorizar
nem sensação concreto-abstrata
pra enquadrar.

Que querem?

Toda poesia é necessária
todo artista
toda arte
toda forma de amor
de amar
toda tentativa de desembrutecer o ser humano
toda forma de visão libertadora
libertária
caminhos de renovação
Toda experiência transcendental

Que querem de nós?
que viremos máquinas
que fiquemos ignorantes
que sigamos a direção que aponta a caneta do engravatado
?
Querem a nossa submissão?
Pois,
saibam,
não é passivo o novo mundo
a consciência cresce
porque a liberdade interior é maior
e se um governo
que deveria ser PARA o povo
não acompanha essa evoluçã
então
ele
deve
cair,

terça-feira, 17 de maio de 2016

entramelando as dores do mundo

vozes secas
vociferando
isentas
dessa dor
relampejam
sonoras
vendendo canções
sabendo de si e mais nada

levando ventilação
aos dutos do cérebro
versando essas dores
anestesiando outras

de dor em dor a gente se ajuda
a sua dor lapidada
alivia a minha
e a inspira a inspirar

com nossas dores
portanto,
a gente sara o mundo

é só entramelar
compartilhar
e doer.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

para

A lucidez atravessa a gente como um raio
lucidez mesmo
onde o presente não faz sentido
nem incomoda

Onde o registro do passado
não importa
e o futuro, bem importante
nada

É um momento de pleno poder
conhecimento de energias
sabedoria pra executar
como um canal
o que o universo mandar

é fluidez no caminhar
é raio de sol
é um instante de vida
vida mesmo
que nos atravessa

como um raio

necessário
no campo estagnado
de um presente arbitrário
complexado
enfermo
necessário

lucidez, seu moço
lucidez...

cérebro-vida

empírico empório de ideias
ilusões
cobaias da indústria
do sistema que te pariu
quem não vê
retornou aos braços da mãe merda
e conformado 
se dopa
de dinheiro
com discurso de trabalho
whyskas sachê pro gato
jornal nacional pro vazio 
craniano
é quase 
edipiano 
o que faz com o próprio corpo
fode, droga
geme na agulha
se arrepende
chora, compreende
elixir é promessa de cura
se cega pra não ver
a tragédia acontecer
disfarçadas de milagres que vão sugando
sugando
as entidades
as energias
o disco solar 
que tava aí quando cê nasceu
agora é vinil riscado
virando na chapa
pra sentir-se um pouco...
garoto, 
cê é louco!

quarta-feira, 11 de maio de 2016

plagas distantes

plagas embasibadoras
descaftenize o cosmos
para que o caos prevaleça
antes da nova civilização
que embotará as trevas
e as farão nossos olhos
tamanha claridade

olhos

O sol nasceu pálido
pintando de sombrio o dia que despontava
com o céu enfeitado de gélidas nuvens
realçadoras dos prédios da cidade
com luzinhas acesas desde a madrugada.

A manhã escorreu sobre o solo
encheu de esperança um coração bem aquecido
e inspirou os de alma expessa e profunda.

Foi bom que nasceu
Mas há olhos que só querem dormir
vago
pois
entre
os dois
um não desconhece a dura realidade que o sonho não pode mais cobrir
e o outro vê que as nuvens foram soberanas
pelo menos onde o sol
dessa vez
não pôde ser poesia.