Tem bichos andando no meu corpo
Eu os vejo
Eu os sinto coçar na pele
Eu permiti que bichos entrassem
Para impedir que bichos viessem
E estou me sentindo bicho:
malquisto
pequeno
um fardo
um incômodo
Mas não sou o bicho
Eu sei
Eu não sou o bicho
Há bichos que me consomem
não sei por quê
não sei responder esta pergunta sem me ofender
Não estou no meu lugar
Eu não pertenço a esta casa
a este corpo
a este mundo
E isso me inebria de ódio
mas contra quem devo esbravejar?
Quem é o objeto do meu ódio?
A mulher que me punha de castigo no milho aos seis
O homem que me torturou desde os quatro?
Ou a mulher que me privou de tudo que não fosse ela?
Eu devo realmente culpar essas
pessoas?
Ou segurar tudo sozinho
como sempre?
Tem realmente muito vivendo em
mim...