quinta-feira, 27 de abril de 2017

a natureza grandiosa de complexa simplicidade

no princípio
acreditei que eu era uma serpente
e rastejava
achava que o chão era o meu lugar

todo o olhar voltado pra fora
me dizia isso

pelas escolhas que eu fazia
pelos pensamentos que eu tinha
pela minha natureza
em diferenciação

eu era uma serpente

me convenci disso

mas as coisas foram mudando
a serpente foi trocando de pele
e entrando no casulo...
entrando no casulo?
que serpente é essa que entra no casulo?
sou então uma borboleta?

havia algo errado
com essa ideia que faziam e que eu fazia de mim
alguma peça não estava encaixando
por mais que eu tentava

então tudo desmoronou

como um parto
quando saiu do casulo
a serpente
que não era serpente
nem borboleta
transfigurou violentamente sua natureza
e o que rasgou a pele velha
atravessou os céus num rajado flamejante
gigante e encantado
senhor de si e de seu poder

ainda não consigo nomear-me
mas sei que não rastejo
e tampouco sou fácil de categorizar
poucos me percebem
e os que o fazem também possuem uma natureza grandiosa
de complexa simplicidade

sou como o dragão chinês
senhor da sabedoria e da boa sorte
fértil, guerreiro
capaz de nadar nas profundezas
e de ascender a alturas eternas

um ser em contínua transformação
e em constante lapidação
e de uma coisa me assenhoro
não sou nada do que julgam que sou
e nunca saberão
pois pouco sabem eles mesmos do que são feitos.


Um comentário:

  1. UAU, adorei! Uma linda re-descoberta de si mesmo.. Não se saber exatamente o que se é, mas adorar e viver intensamente o processo.
    Muito bom poema!
    Abraços e bom final de semana.

    ResponderExcluir