Na semente era amor e desejo
nos primeiros passos
e entendimentos
nos primeiros clarões de pensamento
era cale-se
segure-se
entupa-se
ninguém está nem aí pra você
mas parece que está
Do lado de fora
era tudo normal
tão normal
tão igual
Eu descia escadas
achando que subia
Eu me repetia como quem sabia
e assim seguia
E lutava pela sobrevivência
pela eficiência
e ainda vivi com um parasita divino
um funcional inquilino
traficante de destino.
E ao me libertar
não me libertei
só achei
Não tinha espaço
era um útero aconchegante, mas seco
pequeno, apertado
e logo eu
e logo eu que tinha asas tão grandes
Fui pisado por essas patas
que estava na família errada
renegada
odiada
pastavam em paragens forasteiras
que
sem eira nem beira
implorava por clemência
por ajuda
por paciência
por mãe
ele só queria uma mãe
Eu sou fruto de uma carência
pois ela só queria uma família
Nela fui criado
para corresponder ao que só faz interferência
Mas tal parasita não é meu
não sou eu
e não pode ser integrado
de jeito nenhum
não pode ser integrado
Veio de um sistema errante
para o sistema errado
Não sou eu quem vai
resolvê-lo
não sou eu quem vai amá-lo.
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