sexta-feira, 22 de junho de 2018

ERA

Na semente era amor e desejo
nos primeiros passos
e entendimentos
nos primeiros clarões de pensamento

era cale-se
segure-se
entupa-se
ninguém está nem aí pra você
mas parece que está

Do lado de fora
era tudo normal
tão normal
tão igual

Eu descia escadas
achando que subia
Eu me repetia como quem sabia
e assim seguia

E lutava pela sobrevivência
pela eficiência
e ainda vivi com um parasita divino
um funcional inquilino
traficante de destino.

E ao me libertar
não me libertei
só achei
Não tinha espaço
era um útero aconchegante, mas seco
pequeno, apertado
e logo eu
e logo eu que tinha asas tão grandes

Fui pisado por essas patas
que estava na família errada
renegada
odiada
pastavam em paragens forasteiras
que
sem eira nem beira
implorava por clemência
por ajuda
por paciência
por mãe

ele só queria uma mãe

Eu sou fruto de uma carência

pois ela só queria uma família

Nela fui criado
para corresponder ao que só faz interferência
Mas tal parasita não é meu
não sou eu
e não pode ser integrado
de jeito nenhum
não pode ser integrado

Veio de um sistema errante
para o sistema errado
Não sou eu quem vai
resolvê-lo
não sou eu quem vai amá-lo.

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