- Você viu a quantidade de morcegos que passou ali?
- Olha os morcegos!
- Não vi...
- Mãe!
Quem viu, viu. A nuvem de morcegos contornou a copa frondosa da árvore mais antiga da cidade e, inesperadamente, mergulhou no lago, aberto para visitação à noite. Os dois homens e os dois garotos estavam arrebatados com a mesma cara. Depois se entreolharam com espanto e riso nervoso. Em seguida, procuraram cúmplices externos.
Os garotos viram dois homens vestidos de roupa séria, os homens viam moleques da idade de seus filhos.
Seus olhos se fitaram por alguns segundos, um nem sabia se dirigir ao outro.
- Eles morreram? - falou o mais novo, por fim.
- Não sei, deixa eu ver.
Quando o outro garoto corajosamente tirou a camiseta e saltou no lago, um dos homens pulou também, de sapato e tudo.
Os que haviam ficado se encararam.
O lago estava frio, mais frio do que costumava ficar à noite, pois havia acabado de chover uma chuva gelada com granizo. O homem sabia nadar, mas não conseguia enxergar nada e a imagem de um corpo de menino afogado o aterrorizou tanto que ele começou a gritar qualquer coisa. De repente, uma mão, claramente uma mão, com cinco dedos, agarrou o seu calcanhar e o puxou pra baixo com uma força desproporcional ao seu tamanho.
O encarar de menino e homem era tão intenso que eles nem repararam a cena acontecida a poucos metros de distância.
- Ah... é...
O homem não sabia o que dizer, queria consolar o garoto de alguma maneira, mas não sabia como.
- Tudo bem, o Alvinho vai voltar - disse o garoto de repente.
- Vai... ele vai... - respondeu o homem espantado.
- Ele sempre volta - continuou o menino. - Uma vez nós dois pulamos de um penhasco e eu não pulei, né, porque eu não quis, e o Alvinho pulou, tinha mais de um quilômetro de altura. E outro dia ele subiu numa árvore gigante pra salvar a gatinha que tinha ficado lá em cima.
- Se você diz, ele vai voltar! - disse o homem secretamente mais encorajado.
- O senhor não vai pular?
- Eu não... alguém precisa cuidar de você.
- Eu não preciso que ninguém cuide de mim o Alvinho já disse que eu sou grande.
- Esse Alvinho...
- O Alvinho sempre tem razão, e se ele diz que eu sou grande eu sou grande. Olha!
O menino começou a puxar a camiseta por cima da cabeça e, antes que o homem pudesse fazer alguma coisa, pulou na água gelada do lago e afundou. Contrariado, o homem correu e saltou atrás, de sapato e tudo.
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