Eram cinco da manhã quando ele despertou, adiantado duas
horas por uma tosse insuportável que expulsava o ar de seus pulmões
violentamente. Incomodado, ele se levantou, andou meio cambaleando até a
cozinha e bebeu água. A tosse cessou por segundos, mas logo voltou, impedindo a
paz de retornar aos seus pulmões.
O resto de seu descanso foi preenchido por sete ou oito
copos d’água, até que pudesse confiar em se deitar novamente, mesmo com a
garganta dando sinais de seu descontentamento. Já estava quase adormecendo quando
a tosse o acordou de novo, irritantemente.
Diabos! Um tempão que havia largado o cigarro, por que é que
hoje a garganta se comportava como se ignorasse sua atitude?
Levantou-se. Aguou-se. Tosse atrás de tosse.
Eram tão intensas que seu corpo era guiado pela boca, a
coluna tossia, o pescoço tossia, o barulho repugnante fazia seus ouvidos
tossirem, o peito arfar, a barriga pulsar... Eis que seus engasgos lhe colocaram
de cara com a janela e ali: o nascer do sol, resplandecendo em fúlgidos raios
vermelhos e amarelos que alaranjaram seu rosto de calor e esperança.
A nostalgia de olhar para uma coisa complexa tão
absurdamente simples lhe deixou petrificado na frente do espetáculo diário, e
que ele mal via.
Era isso, afinal, que lhe tirara da cama, copos e copos de água
não apagariam a chama superior, e sua tosse o retirou do conforto porque agora
se dava conta que tinha o nascer do sol preso na garganta.
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