quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Novidade


Eram cinco da manhã quando ele despertou, adiantado duas horas por uma tosse insuportável que expulsava o ar de seus pulmões violentamente. Incomodado, ele se levantou, andou meio cambaleando até a cozinha e bebeu água. A tosse cessou por segundos, mas logo voltou, impedindo a paz de retornar aos seus pulmões.
O resto de seu descanso foi preenchido por sete ou oito copos d’água, até que pudesse confiar em se deitar novamente, mesmo com a garganta dando sinais de seu descontentamento. Já estava quase adormecendo quando a tosse o acordou de novo, irritantemente.
Diabos! Um tempão que havia largado o cigarro, por que é que hoje a garganta se comportava como se ignorasse sua atitude?
Levantou-se. Aguou-se. Tosse atrás de tosse.
Eram tão intensas que seu corpo era guiado pela boca, a coluna tossia, o pescoço tossia, o barulho repugnante fazia seus ouvidos tossirem, o peito arfar, a barriga pulsar... Eis que seus engasgos lhe colocaram de cara com a janela e ali: o nascer do sol, resplandecendo em fúlgidos raios vermelhos e amarelos que alaranjaram seu rosto de calor e esperança.
A nostalgia de olhar para uma coisa complexa tão absurdamente simples lhe deixou petrificado na frente do espetáculo diário, e que ele mal via.
Era isso, afinal, que lhe tirara da cama, copos e copos de água não apagariam a chama superior, e sua tosse o retirou do conforto porque agora se dava conta que tinha o nascer do sol preso na garganta.

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