Quando
viu o estado de podridão em que estavam as suas coisas, recuou. Piscou os olhos
numa triste vontade de materializar a fantasia que traria o passado que seria plástico
agora, mas nem assim a decomposição se esvaiu. Deu dois passos em direção a
porta, mas ela também estava morta, o olho embranquecido. Andar de um lado pro
outro não ajudaria, pois o chão já não agonizava. Não era possível continuar lá
dentro com a quantidade de moscas varejeiras que sobrevoavam os móveis. A lâmpada
queimada estava repleta de teias, enroscadas em insetos zumbis e uma enorme
aranha preta, do tamanho do seu pé, espreitava entre a parede e o teto
O primeiro impulso foi o de chorar, mas nem
isso era possível. Com pavor, agarrou-se em si e permaneceu de pé, convencendo-se
de que seria possível transformar a morte em vida, que iria dar um belo trato
naquele horror e fazer a vida pulsar bela novamente, com o canto dos pássaros a
encher o ambiente de luz, o cheiro de flores ser o perfume permanente dos dias
gloriosos que estavam para raiar desse seu impulso, o renascimento
corajosamente magistral que construía em seu interior alimentava suas
esperanças...
E então as paredes caíram, levantando uma
nuvem negra que exalava morte. Dentro de si alguma coisa também morreu.