Intensificando
a serviço da saciedade
sede
pois
seu sexo servido sobre si
seguindo caminhos seguros
sua sedução
sóbria
sem prisões
cintila na noite
na escuridão alquímica
às escondidas
às avessas
como um adolescente
de novo
na pura descoberta
de si da sede
que movimenta o sangue
sinaliza passagens
dessedimenta o passado...
Sossega a alma, menino
estás vivo
pulsante
a seca foi-se embora.
terça-feira, 29 de março de 2016
quinta-feira, 17 de março de 2016
Ciclo
Multidão. Um líder se destaca.
- É para lá que vamos! (aponta o céu)
Imediatamente a mobilização.
- Poderia, por gentileza, colocar este tijolo?
- Sim.
- Obrigado.
- Muito grato por estar ao meu lado.
- Eu te ajudo.
- Vamos juntos.
- Meu respeito e admiração por você e pela sua determinação.
- Você me inspira.
- Somos todos iguais… subindo!
É um
É dois
É três
Cantando pra subir
Subi, subi, subi
Eu vejo. De fora tento entrar. Até consigo. Mas meu fora é
maior que dentro, apesar da teimosia.
O líder que se destaca: Isso sim é liderança compartilhada. Vamos
pra cima. Aqui não da pra ficar, meus amigos.
Asas na construção.
- Disseram que o líder se corrompeu.
- Eu vi o líder se corromper.
- Parece que ele enlouqueceu.
- Por que?
- Tem duas caras naquele ser.
- Como pode agir assim?
O líder que se destaca:
- Vocês estão loucos?
- Eu saio.
- Eu saio.
- Eu saio.
- Eu deixo.
- Eu largo
- Não posso.
O líder que se destaca:
- Por que agem assim? Vocês são ingratos. Me
sinto traída.
Eu não vi nada. Eu só vejo.
- Vão embora então (difamação, difamação, difamação)! EU
comecei, EU termino. Caiam fora quem tem dúvida, quem permanecer começa comigo
um novo tempo.
O membro que se destacou desde sempre.
- Quem são vocês pra acusarem uma pessoa que fez tudo isso?
O líder que se destaca:
- Ele sim é leal, ele me defendeu!
Outro membro que se destacou por esforço próprio:
- Estamos separando o joio do trigo.
O líder que se destaca:
- Vocês acham pouco o que está acontecendo? Vocês acham
pouco o que tem? Querem mais? Ou querem menos? Olha o que fizemos! Não querem
tudo isso? Vocês merecem menos!
Eu vi a debandada. Não sobrou quase nada.
- E você?
E eu? Não decidi.
Me desfolho e vejo a construção explodir
como cartas ao vento, sendo levadas para longe, o que era tijolo virou areia, e
o que era construção desaba, incapaz de alcançar a natureza soberana que se
propunha e proclamava.
Eu saio.
Quem lá ficou diz que agora é que melhorou.
Eu saio e observo que o projeto de ir reto para o alto, agora
vai torto pra lugar nenhum.
sábado, 12 de março de 2016
atualidade
fazendo do facebook a nossa droga
pra dispersar fantasmas
que à frente flutuam,
os famosos fantasmas
que estreitam em nossa consciência
e se diluem no cotidiano
naquela hora
onde podemos encontrar sua origem,
nos afastamos para a caverna
pra assistir a vida pela parede fácil
pra dopar a dor com luz azul-ventre
e confortar nossa existência
com a chama da importância
como as velas falsas que acendem nos modernos santuários
ao depositar uma moeda.
lutamos guerras iludidas pelo Tempo
rastejamos em busca de elixires
disfarçamos o desespero com dignidade
forçamos as sinapses a se transformarem
e acreditamos
acreditamos fortemente
porque
não há outro caminho.
ou abnega
ou se afoga na cama.
pra dispersar fantasmas
que à frente flutuam,
os famosos fantasmas
que estreitam em nossa consciência
e se diluem no cotidiano
naquela hora
onde podemos encontrar sua origem,
nos afastamos para a caverna
pra assistir a vida pela parede fácil
pra dopar a dor com luz azul-ventre
e confortar nossa existência
com a chama da importância
como as velas falsas que acendem nos modernos santuários
ao depositar uma moeda.
lutamos guerras iludidas pelo Tempo
rastejamos em busca de elixires
disfarçamos o desespero com dignidade
forçamos as sinapses a se transformarem
e acreditamos
acreditamos fortemente
porque
não há outro caminho.
ou abnega
ou se afoga na cama.
domingo, 6 de março de 2016
a pele adequada
meia noite
festa rica num buffet de são paulo:
a debutante que viajou o mundo
os pais com olhos estalados
a esquisita e ordinária dona da propriedade
e o dono - velho, ereto e com o olhar de quem dirige o mundo
por fim, os amigos
gente fora de si que dança funk pela metade e curte sertanejo universitário
A festa estava pronta!
ah, também tinha eu
que ia trabalhar
tinha os seguranças que iam guardar
(agindo como leais cães de guarda)
e todo o pessoal da senzala
mas esse pessoal nunca é importante.
Figurino dos homens:
aquilo que chamam de esporte-chique
deve ser coisa de jogador de futebol que ficou rico
o tipo de roupa que o Neymar usou quando foi depor
todo mundo igual, só variando a cor da camisa
Figurino das mulheres:
roupa brilhante e brega que não se usa em mais nenhuma ocasião
sapatos rasga-pele
em geral loiras, de cabelo liso
Havia uma negra,
mas ela estava muito embranquecida.
Eu não estava de figurino
estava vestido normal
camiseta verde
all star surrado
e uma calça discreta.
A festa já estava rolando
a mãe reclamando
a aniversariante segurando seu psicológico
os adolescentes tentando agir como adultos
a música:
in
su
por
ta
vel
men
te
alta
(e olha que eu já frequentei uns bate-cabeças
e sou adepto da boate viado com catuaba)
tocando americanices
e música de projeção da frustração.
Era impossível não ver o problema da divisão de classes
ele pairava sobre o ambiente como um fantasma
sugando tudo e a todos
quem via era oprimido
quem não via já estava abduzido
ou pelo menos havia esperança.
Não era possível suportar sóbrio.
Bebi cerveja
depois um vinho caro
depois mais cerveja
mais um pouco e eu tinha bebido o uísque
fiquei de canto
lubrificando a mente
um segurança me fitou
Circulei
bebi mais um pouco
assisti aos clipes que passavam no telão que
curiosamente
era música da favela
começou a tocar música da favela
com clipes na favela
letras sobre a favela
e os caras cantando
os preto e os branco
era muito estranho.
Resolvi dar um descanso pra mente e entrei na
"área reservada para pessoas autorizadas"
eu era uma pessoa autorizada
eu ia trabalhar na festa
ali era meu camarim
e eu já tinha entrado e saído de lá pelo menos umas cinco vezes.
Entrei
e antes mesmo que pudesse me abaixar até a minha mochila
pra pegar uma roupa de frio, uma vez que o ar condicionado estava assassino,
entraram
como cães de guarda
como quem da um pé na porta
dois seguranças
o que me fitou,
com seu radinho enfiado na orelha,
e um outro de rosto pontudo
negro
me olhou fixamente e perguntou com quem eu estava
- com o mestre de cerimônia.
- ah tá...
- to com cara de penetra? - disse eu colocando a blusa vermelha
era moletom, foda-se
- não...
tentou explicar que tinha lista e ele não tinha me visto entrar
foda-se
olhei com essa cara
foda-se
E me sentei no cubículo que me era permitido esperar.
Não sou negro
sou branco
mas
por um minuto
me senti como os garotos e garotas negras
que são perseguidos em lojas e supermercados
realmente
dói
é revoltante
é bizarro
uma série de sensações
e isso porque meu figurino não estava adequado
e pra quem não tem a pele adequada...?
festa rica num buffet de são paulo:
a debutante que viajou o mundo
os pais com olhos estalados
a esquisita e ordinária dona da propriedade
e o dono - velho, ereto e com o olhar de quem dirige o mundo
por fim, os amigos
gente fora de si que dança funk pela metade e curte sertanejo universitário
A festa estava pronta!
ah, também tinha eu
que ia trabalhar
tinha os seguranças que iam guardar
(agindo como leais cães de guarda)
e todo o pessoal da senzala
mas esse pessoal nunca é importante.
Figurino dos homens:
aquilo que chamam de esporte-chique
deve ser coisa de jogador de futebol que ficou rico
o tipo de roupa que o Neymar usou quando foi depor
todo mundo igual, só variando a cor da camisa
Figurino das mulheres:
roupa brilhante e brega que não se usa em mais nenhuma ocasião
sapatos rasga-pele
em geral loiras, de cabelo liso
Havia uma negra,
mas ela estava muito embranquecida.
Eu não estava de figurino
estava vestido normal
camiseta verde
all star surrado
e uma calça discreta.
A festa já estava rolando
a mãe reclamando
a aniversariante segurando seu psicológico
os adolescentes tentando agir como adultos
a música:
in
su
por
ta
vel
men
te
alta
(e olha que eu já frequentei uns bate-cabeças
e sou adepto da boate viado com catuaba)
tocando americanices
e música de projeção da frustração.
Era impossível não ver o problema da divisão de classes
ele pairava sobre o ambiente como um fantasma
sugando tudo e a todos
quem via era oprimido
quem não via já estava abduzido
ou pelo menos havia esperança.
Não era possível suportar sóbrio.
Bebi cerveja
depois um vinho caro
depois mais cerveja
mais um pouco e eu tinha bebido o uísque
fiquei de canto
lubrificando a mente
um segurança me fitou
Circulei
bebi mais um pouco
assisti aos clipes que passavam no telão que
curiosamente
era música da favela
começou a tocar música da favela
com clipes na favela
letras sobre a favela
e os caras cantando
os preto e os branco
era muito estranho.
Resolvi dar um descanso pra mente e entrei na
"área reservada para pessoas autorizadas"
eu era uma pessoa autorizada
eu ia trabalhar na festa
ali era meu camarim
e eu já tinha entrado e saído de lá pelo menos umas cinco vezes.
Entrei
e antes mesmo que pudesse me abaixar até a minha mochila
pra pegar uma roupa de frio, uma vez que o ar condicionado estava assassino,
entraram
como cães de guarda
como quem da um pé na porta
dois seguranças
o que me fitou,
com seu radinho enfiado na orelha,
e um outro de rosto pontudo
negro
me olhou fixamente e perguntou com quem eu estava
- com o mestre de cerimônia.
- ah tá...
- to com cara de penetra? - disse eu colocando a blusa vermelha
era moletom, foda-se
- não...
tentou explicar que tinha lista e ele não tinha me visto entrar
foda-se
olhei com essa cara
foda-se
E me sentei no cubículo que me era permitido esperar.
Não sou negro
sou branco
mas
por um minuto
me senti como os garotos e garotas negras
que são perseguidos em lojas e supermercados
realmente
dói
é revoltante
é bizarro
uma série de sensações
e isso porque meu figurino não estava adequado
e pra quem não tem a pele adequada...?
Assinar:
Postagens (Atom)