sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Entendimento


     Deu nele de fazer esse curso sem mais nem menos, sem precisar de vestibular ou estudar em demasia. Suas economias se deixaram ser tragadas pela vontade de possuir a melhor câmera fotográfica que a competência humana podia fornecer, em dois anos estaria doutor da imagem que queria ver. Todos sabem como o trabalho muda de caráter quando passa a ser prazer!
     A mãe sempre achara que ele tinha um talento inexprimível para matemática, sempre achara que o menino pudesse vir a ser professor, como o pai, afinal a família era de homens físicos, químicos, álgebros: correta e estritamente exatos. Por que esse menino me inventa agora de tirar fotografias, meu Deus?
     Mas o fato era que o jovem não se abateu com nenhum tipo de desânimo que, porventura, pudesse lhe assombrar por meio dessa gente que não tem certeza se trabalhos como este eram rentáveis.
     Mas a rentabilidade estava toda no coração. Foram os dois anos mais silenciosos que ele teve na vida, abriu mão da festa de formatura, das festas de família, das festas dos amigos, abriu mão até de si mesmo. O prazer do trabalho, subseqüente ao prazer do estudo, veio com sua câmera e a pura existência de seus amigos.
     Era um por dia, em lugares diferentes, presenteados com as mais belas imagens de si próprios que, numa eufórica contemplação, radiavam ao outro com sua admiração e felicidade.
     Era assim que ele, como quem libera beija flor, ganhava a vida.

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