domingo, 15 de novembro de 2015

um bando de viciados malucos

Um bando de viciados
malucos
um bando de viciados
somos
malucos
um bando
por qualquer coisa
maconha
um bando que volta
do pó ao pó
ao álcool
malucos por
cigarro
viciados
jogos
tevê
somos um bando de
novela
carne enlatada
transgênica
transgênero
viciados em
subverter
em comer
em beber
em foder
malucos
em bando
rezando
viciados em
espiritualidade
em pornografia
somos um bando
de junkies
por desgraça
por graça
por dinheiro
por admiração
viciados em arte
em violência
viciados em fazer
em pensar
em julgar
em matar
somos um bando de viciados malucos
que aponta o dedo pra outro
bando de viciados malucos
gangues de éssepê

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

FOGO

Criatura criadora
Voraz
Faminta
Selvagemente espiritual
com sede de vida
latente - pulsante
pulsadora
Irradiadora de força vital
Grita de prazer
coração quente
mente atenta
silencia
escuta
ouve
e age
conscientemente
semente bela
estridente
fogo abrasador
purificador
daquilo que movimenta a existência
e insiste em viver
e rir
e chorar
e intensamente existir
plena
visceral
corpos acesos
intrínsecos
sentidos
ligados
queimando
inspirando
morrendo
e renascendo
e voando
vertendo vida pelos poros
intrépida
magnífica
empoderadora
abrasando a terra 
acalorando a roda
vivificando o ser.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

PARA!

Muda
Muda de casa
muda de rua
muda de cidade
se tiver ruim 
muda de roupa
de vocabulário
Muda de ideologia
de crença
de sexo
Muda de namorado
de marido
de amigo
Muda de cueca
de cabelo
de estilo
Muda de emprego
de divertimento
de vício
De hábito
de música
Muda de pele
muda de shampoo
de família
Muda se ta ruim
Muda se ta parado
Muda
muda e para de reclamar
muda pelo prazer de mudar
de transformar
muda pra renovar
até que se essa muda cresça
tenha frutos pra dar
e então
se precisar
novamente mudar
muda
e muda
e muda...

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Trânsito

Eu sou a dor
a pena
o sofrimento e a dificuldade
o isolamento
a rigidez
a falta d´'agua e a insolação
Eu sou a queda
o fracasso
a ordem e a desolação
Eu sou o pobre
o preso
o silêncio e a dissolução
Eu sou o escuro
a tristeza
a incerteza e a solidão
Eu sou análise
boicote, eu sou chicote
e indisposição
Eu sou a fleuma
a doença
o desespero e a inquietação
Sou ansiedade, tempestade
imobilidade, sou depressão
Sou finito, imortal
Sou trabalho e obstinação
Sou cigarro, sou bebida
esquecido e sem remissão
Eu não sou nada
nem ninguém
só poema sem realização
Sem mensagem
sem interesse
sem vontade ou determinação
Sou apático
caído
suicídio e perseguição
Sou perigo
sou divino
diabólico
em encarnação

sábado, 8 de agosto de 2015

desabafo

Sou bobo da corte porque sou
livre
louco
insubmisso
não caio na tentação do poder
e nem perco a cabeça
na lâmina que cega
Sou a velharia mais nova que há
e me protejo de mim
apontando o eu no outro
e
pior
o outro em mim
patético
ridículo
bufônico
derrubo máscara
me desnudo
poético
em nome do mais importante que existe
que é NADA
mais importante que nós
E nós
somos um
Não trabalho em equipe
rio da equipe
esculacho a equipe toda
porque são um bando de civilizados
tentando não parecer primatas
(mas se coçando e caçando pulga )
Mas procedo das cavernas
e só não arrasto mulher pelos cabelos
porque gosto de homem
(e de um carinho de vez em quando)
Quero me tatuar a mim mesmo 
pra nunca me esquecer de que o corpo morre
e que não sobra NADA
comida serei dos bichos que mais desprezo
[depois dos homens]

Não sou especial
sou escória

Não sei ser sério
tentei e GRAÇAS A DEUS não consegui
eu canto num templo que não chamo de meu
e sou torto de natureza
minha essência
sinto
minha essência se vaporizar
quando tento me corrigir
e aí descubro que o certo é o errado
e que ta errado ser certo
porque o certo não existe
e aí eu me dou uns tapas
pra voltar a ser burro
quando começo a ficar inteligente
- demente!

Viva a imperfeição magnífica
diz um desesperado bêbado
que ela é a cura que vem das estrelas
o que temos que fazer é engolir
e arrotar prazer!
Não há cima ou baixo
que bata o 
meio!
É no meio que a gente se desenrola
é no meio que a gente se enrola
é no meio que a gente se mete
brinca dando volta na Lua
achando sabemos
Sabemos o que, meu deus?
NADA
Porra nenhuma
caguei pro saber
ele só sabe escravizar
humilhar
rebaixar,
alguém há de ser menosprezado,
e
como não sou nada
aponto meu dedão pra todo mundo
e enfio ele no meio do meu próprio cu
pra me lambuzar
de humanidade
e a pressão baixar
e tudo se explodir num grandessíssimo gozo
e então eu cair
dormir
e sonhar realidades
realidades subliminares
que nunca irão acreditar
só eu
só eu.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Topo

Os degraus eram intermináveis, como o fôlego parecia ser também. Não havia outra coisa senão a meta, o topo, o ante-além-pós. Passo sobre passo marcava a chuva salgada que despencava da testa.
   Um desfile de infinitas portas, janelas, corredores sombrios e luminosos, aberturas por onde passava todo tipo de criatura, paisagens transcendentes de jatos de águas límpidas, rios cristalinos de pássaros coloridos e luzes mirabolantes de movimentos eternos, monjolo de sombras, barcas do inferno, entrada de Pasárgada, caixas de Pandora, ilhas perdidas e castelos de muitos contos passava pelos lados de seu corpo e de sua percepção sem que fosse notado pelos olhos que se mantinham focados.
   Era lá! Só lá existia para aquelas pupilas que pensavam Sol. Aos poucos a distância diminuía e o fôlego adrenalina. Quanto mais perto, mais força e mais e mais perdidas.
   Finalmente, então, tocou o topo. Os joelhos se içaram, os olhos pousaram e, de repente, tudo, TUDO parecia desimportante. Esfacelava-se diante de não sabia o que o sentido do esforço, o esforço da busca. A respiração ainda não chegara, e não chegaria ao nada-resposta de tantos degraus.
   O topo era vazio, e o céu estava brilhante...

sexta-feira, 17 de julho de 2015

materializar o sentido

ama
teri
aliz
ação
do amor
é 
o que
é o que
afina
l
mate
ri
aliza
o amor
é possível
des
afetar
os medos
os dedos
os credos
ter o
cor
ação
aberto
pra utopia
se manifestar?
Que só vive
quem morre
e só morre
quem vive
e só se molha
quem ta na chuva
e só leva tiro
se se colocou 
no alvo
no perigo 
que mora a benção
a porta do céu
a do inferno
é a mesma
dúvida não faz o barco navegar
quem se fere viveu
quem saiu da casca voou
quem sofreu de amor
se apaixonou
gota é tempestade
tempestade é gota
mesmo garoa ainda é água
e se molhou é porque mereceu
se sofreu é porque doeu
e se doeu é porque envolveu
em algum lugar
amou
ainda que com a unha
amou
que se ama com o calor
com o fervor de um nada
que é só palavra
que esse nada tem potência de tudo
que vira a roda
gira o mundo
perturba tudo
desmorona mundos
abre fundos
cava profundo
e é nada.
É nada? É nada nada!
É tudo
e desse tudo
nasce a existência
o significado
a potência da morte
e o sentido da vida.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Pé na Terra

Que eu encontre o divino
naquilo que não é divino
naquilo que é tolo
banal
ridículo
sujo
pequeno
e descartável
Que eu veja Luz
onde há Sombra
e que se ilumine
a Essência
para que possamos aprender
a enxergar
a discernir
a separar
e principalmente
a Unir.

Amém.

domingo, 14 de junho de 2015

Trator

Estou de mudança
e me arrisco a dizer que sempre estive
mas nunca soube

Ela sempre vinha aos poucos
primeiro um corredor de formigas sutis
que carregava tudo amorosamente

Depois um carrinho de brinquedo
botava as coisas dentro

ludicamente 
me empurrava

Então uma bicicleta
um cavalete e alguns pincéis
que me transformaram e me iniciaram

Uma moto, um carro, um caminhão
e quando eu vi 
já estava lá
não do outro lado
porque não tem lado nenhum pra chegar

Só tem caminho

um caminhão

Me dei conta de que sempre estive de passagem

de repente
me vi pilotando um trator!

tudo precisei ruir
meu altar foi despedaçado
e foi a coisa mais importante a ser citada

então ficou claro
que 
a clareza é o que importa

Estou de mudança e não pretendo chegar
Estou de mudança e o negócio é mudar
Porque hei de chegar
só sei aonde
mas há!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

puta vida puta

A puta dor da existência
vadia
trabalhadora
rendida e vendida
nadando com e contra
surfando com o mundo
e consigo
até
alcançar o
sentido!
da vida
a
a
a
a
a
a
ah
puta dor maravilhosa
que vida é essa
puta vida
se torna digna
de ser vivida
se (^)
bendita maldita tenebrosa maravilhosa
pra gozar a vida
dignamente
puta
puta
ser

segunda-feira, 25 de maio de 2015

dedo de deus

Tenho a alma arretada
e o espírito arredio
foram vidas sendo
certo
vidas me preparando
para agora 
e destruo mundos
agora e não mais
não menos
destrono reis
rainhas
quebro coroas
tronos
incendeio reinos
castelos
palácios

templos

tiro deus de cima
e o busco nas profundezas
encontrado livre
livre para ser o que eu descobrir
dentro
tempo
processo
cada 
coisa
de
cada
vez
breve
e
longo

Enquanto
meu corpo é uma festa
grita de prazer
pelo que 
tanto foi
considerado pecado
e olhando para trás 
eu diria que fui levado pelo diabo
mas presentemente
vejo Netuno
dissolvendo as estruturas
trazendo a fé
para um futuro que é só
nuvem
nuvem carregada
nuvem densa carregada
que um dia
quem sabe
desaguará

E amaciará 
a peregrinação por esse 
abismo/deserto
cego
sem rumo em que 
confiar é preciso
guiado por uma sabedoria que desconheço
mas que habita
e sabe mais
muito
do que eu
e tardiamente cedo
cedo porque sim
me faz 
viver
e
ser
sem querer

domingo, 17 de maio de 2015

Essa busca...

Eu vou louvar a Deus nas boates
nas periferias
no bruto barro da incerteza
nos becos sem saída
nas maiores furadas

Vou ritualizar no meio da rua
no meio do carnaval
às cinco da manhã
de ressaca
Cantar glória a meia noite
sóbrio de amor
e só me ajoelhar
pra dobrar a barra da calça
e me jogar sem tropeçar
na festa profana do aterramento de qualquer 
luz

Sem Aff Maria 
sem Pai Nosso
sem sinal da cruz
sem disciplina
sem nobreza
qualquer
vou encontrar Deus
na primeira esquina
e me embebedar Dele e com Ele
como o sangue de Cristo
que foi derramado 
como aquele leite do lamento
que foi desperdiçado 
como cerveja
chorado 
como um boteco

Vou acender vela 
pra queimar essa petulância castradora chamada Livro Sagrado
e a única coisa que ela vai iluminar
será o pires em que se apoiará

Pois 
quem muito procura Deus não o encontra
Quem muito procura Deus não se encontra
Para ver a luz é só apertar o interruptor
e aquilo que está Alá não está aqui.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

contra-dança

me
rebelo contra mim
contra 
os contras que fiz ao mundo
contra
tudo o que acreditei
contra 
os contratos falidos
contra 
os mortos
contra 
os vivos
contra 
os deuses que criei
tudo
é meu
e contra 
mim
a esse tudo 
não só viro as costas
como viro a mesa
viro a casa
viro revolução
destruo
tudo
destruo 
o universo 
criado
contra
dança
sobre os cacos
danço
em nome 
da liberdade
essa é a minha 
religião.

terça-feira, 5 de maio de 2015

desamargura/desapego

Foi embora
mas largou as reticências espalhadas em mim
e por outra boca
eu soube 
do teu futuro
e os nossos póstumos encontros só
ficarão na memória
ficarão (?)
ou virarás um passado tão pretérito
como os outros 
que vez ou outra batem às paredes da minha memória
só pro meu prazer?
Tocas então o fagote
que da minha orquestra você já saiu
antes mesmo do primeiro adeus.
Deu a deus 
derradeiro (?)
o meu pandeiro
o meu violão
o meu batuque

que
não avisou
não viu recado
nem deixou
e eu aqui 

mendingando...

Você veio
e foi
veio
e foi
veio
e foi
e este mês
você veio
você foi
vo

foi
e eu
prefiro assim.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Por que não?

Tensiona
Torce
Afunda
Afoga
Contrai
Sustenta
Entrava
Sofre
Empilha
Bate
Grita
Soca
Gira
Tinta
Letra
Chora
Esgoela
Perde
Descontrola
Cora
Fecha
Abre
Derruba
Esfola
Frida
Queima
Incendeia
Entorta
Mergulha
Deslize
Aprofunda
Intimide
Siga
Geme
Treme
Troca
Vive

quinta-feira, 9 de abril de 2015

pr'onde (?)

Correr pelado
quero
pra longe 
as estruturas falidas
caídas
e as rotinas da mente
que não sente
só realiza
organizadas.
Correr pelado
quero
pr'onde
policiais não matem
crianças
brinquem
protejam
pr'onde haja conhecimento 
real
prática.
Correr pelado
quero
pr'onde as diferenças
louvadas
e o outro
parte
luz
sombra
Uno
onde a luz seja entendida
e o Sol Deus.
Correr pelado 
quero
pr'onde Primavera eterna
e não exista erro
não exista pecado
só a regra de ser feliz
feliz ante a consciência
pr'onde não haja demência
e que a nossa loucura seja divina
abençoada
amada
Correr pelado
quero
sendo feixe
sendo facho
exalando liberdade

sexta-feira, 27 de março de 2015

Acaso?

Não, eu não sou profissional
Tampouco intelectual
Nem experiente
Não sou versado em nada
Nem especialista em coisa alguma
Não tenho dinheiro
Não sou útil

Pouco ou nada
sei
do meu futuro
não faço faculdade
Deixei as minhas escolas.
Não tenho fundo de garantia
Não pago INSS
Só faço compra em fim de feira
Quando algo me resta

Não tenho perspectiva
Não faço academia
Não quero ter carro
Não moro com família
Não tenho livro lançado
Nem nada comprado
Não tenho propriedade
Ou coisa alguma em meu nome

O que te resta então?
Poderíeis perguntar
É aí é que ta!
Qual a origem desse perguntar?
Acaso sou o que tenho e fiz?
Acaso existo apenas se deixei marcas?
E se eu não quiser me mostrar?
E se eu desistir do que eu me espero de mim?
E se eu quiser trocar o rumo e ter o direito de fracassar?
Poderá alguém (mesmo eu) menosprezar-me?

O que você faria com as qualidades acima?

Não digo 
por
que 
optei
Divido o que consideras fracassado
para que reavalies o que deve ser julgado.

domingo, 22 de março de 2015

Flores

Hoje eu tive a sensação de que minha vida está chegando ao fim
Mas o que acontecerá depois?
Como será o mundo sem mim?
Será que não sou mais útil?
Talvez a Lei não me queira mais
Talvez eu não tenha jeito
Talvez eu não deva continuar aqui
Eu não mereço continuar aqui?
Jesus
nunca achei que teria tantos questionamentos na morte
E eu descobri uma coisa interessantíssima
com essa ida e vinda reflexiva
eu 
não 
quero 
morrer
!!!
uau, nunca achei que diria isso!
Mas eu realmente não quero morrer
Me apeguei a essas pessoas daqui
me apeguei a vida que tenho
Cansei de ficar sozinho
eu quero encontrar o país dos beijos, dos abraços
dos carinhos
das pessoas e dos momentos alegres
dos BONS momentos
dos BONS lugares
dos BONS
me apeguei à Terra
e ao conhecimento disponível nela
e aí eu descobri também que eu amo os meus amigos
que eu amo os filmes que existem aqui
e toda a arte terrestre
que eu admiro os que amam
os sensíveis
os fortes
os fracassados
a música
o teatro
a dança
o circo
a literatura
amo tudo tanto que não quero me desfazer da possibilidade
de senti-los na alma
amo a rebeldia
amo a ordem
a ignorância
a sabedoria
amo os opostos
os iguais
o certo
o errado
amo o que está além disso
pra chegar à conclusão de que o que eu amo mesmo
são as ideias

Agora já não tenho mais certeza de que meu corpo está chegando ao fim
talvez alguma coisa aqui esteja morrendo
e pode morrer
o que me faz descobrir a beleza da vida
tem tanta beleza como ela
a beleza da morte
ah, a beleza da morte
que desencadeia uma série de crescimento e expansões
de tão macabra é iluminada
e, 
poxa,
já nem sinto mais receio de morrer
pois amo até a morte
a dos outros
a minha
as mortes todas
pois são aspectos da existência
maravilhosa como a vida
diversa e infinita

se for para morrer
que renasça
se for para renascer
que morra

sexta-feira, 20 de março de 2015

Áries

Cavaleiro armado de impetuosa ousadia a se destacar do Todo
por ordem do Todo
mesmo inconsciente de quem quem é
é!
Movido pelo Fogo Primordial da Criação
o impulso da vida
o yang
cheio de yin
o combatente agindo contra as forças do mal
o aprisionador de éguas
incendeia o metal com seu Poder Criador
e forja na Chama sua espada e seu escudo
Cavalga, cavaleiro
sempre em frente
age
faz
irrompe
És Fogo Sagrado
És Chama de Vida
És Criador
És o Primeiro
És o Um
Que quebra as cristalizações nos chifres da fronte
e guerreira contra o que se impõe em teu caminho.
O objetivo?
Agir!

quinta-feira, 12 de março de 2015

Aldeia

O que eu sinto
o que eu penso
não são menos do que
o que você é
o que você pensa
somos feita mesma Essência
meu coração é o seu
nossas mentes estão unidas
e o nosso corpo é feito dos mesmos átomos
de que é feito o Sol
Por que então é egoísmo falar de mim
sendo que falo de ti também?
Falando de mim
falo do humano
escrevo, portanto,
a história da humanidade
Estou em todo lugar
porque estou presente
nunca me esquecerão,
posto que nunca existi
bem como
a ti!

quarta-feira, 11 de março de 2015

posso

Posso ser poeta se eu quiser
?
só por ser
só pra ostentar 
a deliberada poética do ser
como quem guarda um diploma de faculdade
e prega na testa pra todo mundo ver
?
Ou é preciso
MORRER
pra escrever por
NECESSIDADE
inda
DIZER
que faz assim pra:
- ser
- ostentar
- pregar na testa o drama que carrega a poesia
mas que a poesia não carrega
?
O que é ser poeta, afinal
?
É produto 
é material
ou é estado de ser
?
É preciso materializar a poesia
para ela ser concreta
?
E se eu não quiser ser concreto
?
e se eu não quiser materializar
?
Serei poeta ou serei latência
?

Serei poeta
!
filósofo
!
palhaço
!
astrólogo
!
serei a Madonna se eu quiser
!
(e ninguém venha me falar que não)

serei a
latência então
poetisando pra poetisar
dando olhos à vida
pra que mais que sobreviva
seja vivida
e vívida.

canto

Estou descobrindo
aos poucos
como uma flor que desabrocha
onze horas
que

o demônio

que me habita
as profundezas
é
na verdade

o deus.

terça-feira, 10 de março de 2015

meu Espírito na Matéria

Você não vai me ver na fila do frango de domingo
nem me drogando nas praças
(que é quase a mesma pacacidade)
nem reclamando do emprego
e gozando do salário.
Vai me ver mesmo é preocupado em materializar-me
e não em enterro de parente
ou em cervejada de amigos.
Vai me ver atrás de um grande amor
e de um projeto que valha a pena
e não entregando currículos.
Tampouco desprezo quem o faz
cada um escolhe como trazer seu Espírito
como vive da Alma
o que traz na Mente
o que faz com o Corpo.
A mim interessa a materialização do Espírito
e a espiritualização da Matéria.

domingo, 8 de março de 2015

só pra ver a chuva

Hoje caiu uma chuva tão bonita
não que as chuvas não sejam todas bonitas
mas a de hoje estava especial
consistente
dessas que você sabe que não vai parar tão cedo
porque o céu está decidido a chover
Eu parei com tudo o que fazia só pra ver a chuva
(menos escrever)
parei meditação
parei oração
parei o sexo
parei o cigarro
parei de comer
de beber
de contar
só 
pra
ver
a chuva
que caía em gotas coreografadas
multicoloridas
o céu estava cinza
os prédios, a rua, os carros
tudo 
através do véu cinza que sacudia as árvores 
e as poças dela mesma 
nos buracos do asfalto
O sol não veio
não só ele

sexta-feira, 6 de março de 2015

samsara

rodante ciclo evolutivo
vertiginoso
de videmorte
correndo a quilômetros por hora
minuto
segundo
milésimo
quebra a estagnação só por existir
e mesmo parado no tempo
veloz no espaço
obriga o sangue a trafegar
os órgãos a pulsar
e a cabeça a trabalhar
(mesmo se não trabalha
atuando no tempo está)
faz o mundo balançar
o Universo dançar
e o Invisível se revelar
apesar de em tudo estar
e a gente nem notar
porque estamos a rodar
a rodar
a rodar
...

Descem-se 
em espirais ascendentes a 
inspiração rodante que 
como (só?) ideia
flui

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Vênus

Exprimindo-me em versos
exprimo a dor inebriante da existência
que só pode ser sublimada
com a consciência
de que
só pode ser sublimada
A dor poetizada não deixa de ser dor

talvez
nem chegue a ser poesia
Sublimada fosse se se transformasse nas cinzas errantes de uma labareda
transmutadora
que cai
e virasse 
.então.
pássaro
voar-se-ia
para além da matéria que aperta
para além dos astros e das esferas
para além das sombras dessa caverna
.então.
eu ia
narrar a dor como poesia
e compreender sua estadia
posto que meu peito geme
sabe-se lá de que
arde em algum canto
uma fornalha incandescente
que incinera
incinera o que já não tem mais razão de existir como é
vira pássaro
.então.
e voa.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

de sexo

Duas toalhas penduradas
denunciam
o seco que leva o suor
que seca água que leva o suor
da madrugada quente
que escorre a noite
quente
de corpos quentes
que de poesia
cheiram 
impregnam 
as toalhas molhadas
não se agitam
na ausência de vento
de verão pleno
de peito aberto
de suor de corpo
de sexo
pendem

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Amanhecer

Ontem eu dormi com os demônios 
e acordei com os anjos
Transformação alquímica
processada em algum túnel
Luz solar projetada sobre o lodo
nasceu com o nascer
do Sol
iluminou todos os quartos
todos os cantos
e a casa quase caiu, tamanha a intensidade da Luz
Os alicerces tremeram
mas o que se movimentava de verdade eram os bichos
há muito escondidos
corriam pra se libertar pra me libertar
E depois o canto ressoou como as divinas trombetas dos quatro cantos
anunciando o que já estava
mas ninguém podia ver
Então fui dormir com os anjos
e acordei comigo mesmo.