Um dia a loucura tomou conta
dele
mas supôs ser apenas cansaço
de modo que a ignorou e se
deitou como depois de um dia longo
desses que se pensa que não
vai acabar, mas na verdade sempre acaba
como os que terminam a
contragosto quando está bom demais
e dormiu
ou pensou que dormiu
e sonhou
ou pensou que sonhou
e o que desabrochou foi a
forma mais delicada de toda a brutalidade que refreava em si para que os outros
não o tomassem por
louco
e então ele despertou
na madrugada
sedento de água
ou pensou que fosse de água
e a caminho da geladeira todo
o universo se expulsou de si
como um contra-imã
e
pela sua boca
saíram
as
estrelas
os planetas
os buracos negros,
redemoinhos diversos de diversas cores
luas e satélites
e anéis
e asteróides
e galáxias diversas que giravam em torno de si e da geladeira
constituindo a mais magnífica
dança que ele já vira
rodopiando sentidos, sons,
seres
numa música transcendental
nunca ouvida antes por algum mortal
e ele
maravilhado
abriu a geladeira para
apanhar a jarra de água
e matou a sua sede como quem
afoga um peixe
e não havia nada mais
maravilhoso naquele momento.
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