sábado, 15 de novembro de 2014

omeueoseusentir

Me senti desanimado de me sentir
e resolvi sentir o ânimo do outro sentido
o sentido (que às vezes) toma o rumo do inverso
e em verso me revela os avessos do sentir que identifico como 
meu mas
que pode ser captação alheios 
sentidos que atravessam o tempo todo
cruzam os sentires
os sensitivos
os sensores
e cria a ilusão sensorial
que a sensação que se sente é nossa
inteiramente
nossa é nesse sentido
mas o meu sentir
o seu sentir
pode ser não meu
seu
pode ser seu
e o seu
meu
São sentires
que podem
e não podem
mas fazem

são
ilusão de sensação
o que sinto não é meu
pode ser não meu
mas sinto
e se sinto
e sentes
logo
é nosso
logo
se os sentidos 
se sentem sem parar
é melhor que eu 
sinta direito
e você 
sinta esquerdo
pra gente se completar
e se sentir
à par.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Apagão

como gados selados
ensimesmados
concentram obcecados a moderna invenção
cada dia mais passado
e passa a vida
passam os amores
passam as dores
passam as roupas
e a louça e lá vão
os distintos rostos que miram outros
e escolhem com o dedo
ou esfregam o inexistente que é 
jogo
seleciono faixas
atravesso a cidade e o consolador: 
consumindo.
É um mascote bem treinado
de fábrica
da cor que apetece
cada dia um
e
ao anoitecer
quando o brilho do led substituiu o brilho das estrelas
recruza
repisa
retorce
ele
coitado
apaga
mas continua
recarregando
porque no outro dia tem que funcionar
e continuar
e trabalhar
e con
sumir-
se.
O mundo é tão abarrotado de letras e, no entanto, aquilo que mais diz algo não pode ser exprimido em palavras, traduzido em textos ou tornar-se passível de informação.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Defendei os vossos filhos neste mundo de ilusão

Posso cuspir no prato que tão deliciosamente comi
só por vontade?
Ou é divina ou é maldita
a manifestação
raivosa
pelo tempo que carcome até o que já

passou?

Devo pedir liberdade
pela expressão
ou perdão pela questão que tão
arrogantemente me coloco
mas

devo nada

radicalmente nova a minha ideia de novo?
é novo
ou é ideia?

devo nada mais uma vez
devo nada
o débito ia sendo quitado
enquanto a dívida rodava

devo nada

Devo mesmo me recolher a mim mesmo
-se falo em pequenez manifesto falsa humildade-

Aquilo que é inalcançável
o ideal espiritual inalcançável
e tantalizante
que nos prende a essa roda de ciclos que só se repetem
se repete
giram
dançam
cantam
e tão
deliciosamente
se repetem
Repetem o discurso do novo
enquanto o universo
as estrelas
os planetas
escancaram suas bocas
urrando
babando
implorando novidade
e a gente se repetindo
girando como que presos
roda de sansara
perfeita metáfora
Grande ensinamento
se é o mesmo
se é igual
não é novo
é discurso
e discurso
até os ditadores faziam
e convenciam
e convenceram
e mataram
e morreram
.
Deus me livre

domingo, 5 de outubro de 2014

Falta

Amaré
stá tão distante
quanto o mar

Amadas utopias banhadas em vinho
aprazíveis-são mais que a ideia de
Amor

Mesmo quando a vida que pedi
escolhi
manifesta-se aqui
de intuição ungida
e mesmo seas montanhas
soluaestrela
mesmo tudo meu
falta-me...

. alguém 
a
alguém
.

sofrer a perda
a dúvida
a insegurança
falta-me
o ridículo
falta-me
a tolice
falta-me
dois
falta-me
sem faltar

e eu só me dou
a um
alguém alguém.

não tem conclusão.
é dor que não dói

porque falta...

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Soberania

Quando viu o estado de podridão em que estavam as suas coisas, recuou. Piscou os olhos numa triste vontade de materializar a fantasia que traria o passado que seria plástico agora, mas nem assim a decomposição se esvaiu. Deu dois passos em direção a porta, mas ela também estava morta, o olho embranquecido. Andar de um lado pro outro não ajudaria, pois o chão já não agonizava. Não era possível continuar lá dentro com a quantidade de moscas varejeiras que sobrevoavam os móveis. A lâmpada queimada estava repleta de teias, enroscadas em insetos zumbis e uma enorme aranha preta, do tamanho do seu pé, espreitava entre a parede e o teto
   O primeiro impulso foi o de chorar, mas nem isso era possível. Com pavor, agarrou-se em si e permaneceu de pé, convencendo-se de que seria possível transformar a morte em vida, que iria dar um belo trato naquele horror e fazer a vida pulsar bela novamente, com o canto dos pássaros a encher o ambiente de luz, o cheiro de flores ser o perfume permanente dos dias gloriosos que estavam para raiar desse seu impulso, o renascimento corajosamente magistral que construía em seu interior alimentava suas esperanças...
   E então as paredes caíram, levantando uma nuvem negra que exalava morte. Dentro de si alguma coisa também morreu.

domingo, 14 de setembro de 2014

Rito de Morte

Uma chama apaga aqui
Uma vela acende lá
badaladas etéricas
notícia cometa
cobra eficiente
serpenteia nas bocas
nos telefones
nos e-mails
são as mensagens comunicado macabro
... morreu...
... faleceu...
...se foi...
...parou...  
É fim...
e o começo da grande dor
Choram lágrimas de sei lá o que
penam
sentem
e o morto:
inerte
Emerge na vida como nunca antes
tem o contexto
tem o texto
e a família comparece
gente que não se vê há milênios
e se encontra
e se ri
mas ri comedido
que não se ri em velório
qualquer manifestação de alegria pode parecer zombaria
Mas é impagável conhecer a família
tem o mágico-o palhaço-tem a tia católica-a crente-a macumbeira-o primo tatuado-o tio rico-tem quem você nunca viu-aquela que fala que trocou suas fraldas-tem quem não conversa com você-tem quem te elogia-tem os abraços-as palavras ternas-os namorados-e tem o morto
ah é, tem o morto!
e alguém sem noção que diz que ainda pode sentir seu espírito
Energia densa que aos poucos é elevada
e aí tem a cena dramática
tem quem desmaia
quem toca música
quem chora mais alto
quem chora baixo
e tem madrugada adentro
A canseira do defunto em ser velado
e tem o outro dia...

Voltam as visitas
vem as bolachinhas
e o café
os colegas de trabalho
o embriagado
o que reclama
e a obscuridade interna que se vai com o sol do novo dia
E aí... vem papel
vem mestre de cerimônia
vem mais gente
vem mais café
pizza
criança
jogo
calmante
e
blém!
A hora do enterro.
Então o medonho monstro da dor e do sofrimento infinito se levanta mais uma vez
pairando fim do mundo sobre as cabeças
e a comitiva
amparada por promessas de vida eterna
segue rumo ao cemitério
(não sem antes reclamar de algo ou alguém)
E o rito da morte da seu prosseguimento
Já não havia mais choro
e voltaram a chorar
Já não desmaiavam mais
e voltaram a desmaiar
Tudo volta como se não tivesse passado
a velhinha quase surda
faz perguntas desconcertantemente altas
mais vigorosa que o túmulo penetrado
E lá vai o caixão
a alegria
o bom humor
a energia ali é definida
enterra
junto com o corpo
o dia
o mês
e até o ano
Os sinos tocam
Badaladas
a multidão começa a não ter o que fazer
e a consolação arruma seu espaço
É hora de enlutar-se
se vestir preto
colocar óculos
e chorar
mas

para que mesmo?

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Lua Nova/ Saturnando o Escorpião

Me faço poeta na esperança de entender o que me fiz de mim
Me invento em roda
em gira
em rito
Faço de mim o que quero
Sou meu próprio garoto de
programo
me rodo
me chicoteio
me aliso
me masturbo
me amo
me firmo
me engulo
Escrevo, espremo, estrago
pra baforar na noite escura reflexões pra grande bola branca
que está incompleta
como eu

domingo, 20 de julho de 2014

Pax

Repousa em mim um Buda
auto amparado imaculado que
assentado em meu peito contempla a tudo
sereno
Um dourado claruz envolta emanação
E inda diante do caos externo
miscelânea
pensamentos
nada informais
incompreensíveis barulhentos
giramundo com máscara de irreversível
Ele
se
impassibiliza
sorri de mim
para mim
e me crê que retornarei
Pego no éter a compreensão
e quando me dou por ele
me inspiro
e revivo

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Amor

Quando desligou o chuveiro um frio terrível a invadiu. O ar gelado penetrou suas narinas e a pele se arrepiou. Pés e mãos estavam duros, o ar saía em névoas e todos os órgãos se comprimiram a fim de reter o mínimo de calor. Tomando-o por normalidade, apanhou a toalha e passou em seu corpo como se fosse palha de aço; subiu e desceu cortando as fibras, os tecidos, desfiando o cabelo, que pingava ainda que o secasse, fazendo molhar o corpo e aumentando o frio.
     As janelas estavam fechadas e se transformaram em lousa para o giz-dedo fazer o que quisesse, mas eles estavam mais ocupados correndo contra o tempo. Porta aberta e parecia que a Antártida entrava pela sala, os móveis alvos, as paredes, os objetos, os cômodos. Do teto do quarto pendiam estalactites que ainda pingavam. Cada gota um ângulo do que se apresentava. Uma fumaça rasteira ocultava partes do chão e a geladeira era inútil. Tudo estava preso às últimas formas, todas as vibrações congelaram, em céu algum havia sinal de sol ou de calor.
     Desejou não estar morta. Mas não sabia por quê.
     Tentou se distrair com o computador ou com o celular, mas os botões estavam duros, tentou ler, mas os livros não abriam, não dava pra deitar, ou pra sentar, nem sair de casa, pois as portas estavam completamente cerradas. Começando a ferver o pânico, foi até a cozinha pra pegar um martelo e descobriu que não conseguia, então, num arroubo de desespero, chutou o armário e ele inteiro caiu, em cacos. Todas as coisas que estavam dentro dele se desfizeram como vidro.
     Arriscou chutar a porta também, mas ela se recusou a abrir. Com um sorriso no rosto pela descoberta não conseguiu quebrar mais nada, pois algo se rarefizera em seu íntimo. A cabeça começou a funcionar descomunalmente. Então parou e respirou, a garganta secando a cada segundo. Entendeu o que devia fazer, só não como devia fazer.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Meio

Eu preciso dizer 
sou nada
mas só eu posso dizer
Porque tem uma bola felpuda
de juba imponente
no meio do céu
regendo

Eu preciso enviar
mensagens enfáticas
pra ela entender
que este filho da puta
é só gente
como qualquer
vivendo

Eu preciso precisar
se não é isso
me enlouquece
e me perco na matéria
me esqueço das esferas
e fico tempo demais aqui
morrendo

e renascendo

e morrendo

e renascendo

e morrendo

e renascendo

Eu preciso também narrar
essa história
faz parte da regência
me salva, me da licença
me tira do buraco
me mostra ao que eu estou
cedendo

Não preciso de nada
só que gostem de mim
e se não me amarem
melhor assim
pois me venço
e avanço
transcendo

balanço

...

sábado, 17 de maio de 2014

Dos prelúdios

Sou um ser humano errante
vítima de mim mesmo
pelo meu próprio fatalismo

Tenho medo de auto confiança demasiada
pois lá na frente eu descubro que tava completamente enganado
e capoto

Mas digo isso com a alegria de uma criança que acabou de descobrir que pedra mata passarinho

E vou ter que esconder essa porra por causa do meu carma

mas é preciso falar!

Peço socorro sem gritar
porque eu balanço mas não caio
e me alegro por poder estar escrevendo tamanha verdade
e trazendo-a para minha consciência

Sou um fracassado
e isso é bom!
É bom poder constatar que a vitória não é o único caminho!

Erro mesmo
e fazer o que?
Erro tentando acertar
Mas como estou ser humano
errante me movo
na tentativa de destruir aquilo que não cabe mais.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Perpétuo

Tenho de sagrado o que tenho de profano
Cultuo Deus hoje
e o Diabo amanhã
E não é porque estou em cima do muro,
não
Eu sou o muro
Minha porcentagem doce é igual à salgada
Meu altar tem asas e tridentes
Porque Deus é Tudo
O Diabo também
Detesto regras porque elas são limitantes
O mundo É
Perpétuo da prisão preventiva passageira
entre a ilusão e a realidade
E se por acaso eu mandar pro inferno hoje
amanhã estará no céu comigo
E vice
e versa
sou do mundo
e verso
porque não cabe
no inferno
te levo, me levo, me elevo
ao céu
capoto em seguida
pois não aguento
Depois me elevo de novo
pois não suporto
E entre não aguentar e não suportar
me empurro pra frente
porque atrás não tem nada
e parado não dá pra ficar.
Uma vela pra direita
Uma vela pra esquerda
E de vela em vela
vou colorindo o meu mundo
Equilibrado em uma constelação
de estrelas brilhantes e buracos negros
de luzes e sombras
de vida e morte
perpétuas...

Visionário (?)

Senti a noite bater no meu rosto
e desejei demorar semanas pra terminar este poema
Dizer que a semana passou e eu não acabei
Mas essa noite não cessou
nem o vento
nem o poema
Só eu que cessei
cessei
de tentar
ser 
poético
E concretei tanto que até dá pra por cimento
E sepultar esse texto que não fala da semana
nem da poesia
nem é sobre a noite.
Sepultarei!
Sepultando virão flores
pelo menos
As flores que eu colocarei sobre a minha criação
Morta
que trata do imanifesto futuro
Que trata de nada
Mas do que deveria tratar?
Se eu fosse Merthiolate sonharia ser Ayahuasca
E eu subiria cabeças àfora
curando mais que feridas
criando formas vivas
contrariando estes versos que
portanto
devem acabar agora.
BOOOOM

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Miscelânea

Uma boa dose daquilo que eu não sei muito bem o nome
saio tomando
tudo
entro pra fora e vomito pra dentro
tudo
neutralizando
Goles de céu estrelado
tragos de plantas noturnas
e cheiro de pó de erva
de árvore
Sino
atino o pensamento
compartilho intentos
e balanço na balança do afeto
consumindo-me-consumo-se
como a ninguém
fantasiando protótipos
e bancando utopias
ser ou não ser
eis o chavão
que tranca-rua
e à meia noite abre a porta
para que veludos se desenrolem
nas sete encruzilhadas
e Ganesha, finalmente, abra os caminhos
para que o ninho seja limpo
e se desfaça em poeira cósmica
sobrando

Um: a essência
a quintessência que saiu do quarto e transcendeu a terceira
fazendo de nós dois, o único
o Eu
Aqui eu sou
e não sou
o que sobrou
é resto
e o que é resto não tem futuro
Solfejo minhas notas
e me canto como a ninguém
esperando ser ouvido
quem sabe por quem...
Incompleto me guardo
e me lanço
cidade adentro
mata afora
desafogado de quem eu era
buscando ser o que sou
de acordo com os acordos que assinei
Bato tudo na coqueteleira do diabo
e me enveneno de golpes baixos
até viver
até me embebedar disso aqui onde encarnei
e poder cantar por aí
a canção do homem
vivo.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Pés que repousam na parede OU Masturbastardo

Sobre escrever o que não é.
Mesmo quando todo o universo gira
como
brinquedo dentro 
do ser
quando a cabeça ameaça
estilhaçar
em pedaços sólidos de massa até urgir o caule de uma
flor de cor
inédita
Mesmo se os pés doem em toda a sua existência
de tanto andar é preciso
Mesmo sem tema
sem encomenda
Mesmo sem papel
sou fiel
às palavras e ao que elas fazem comigo
Não tenho talento
tenho vontade
aliás descobri que sou nada
que só tenho eu mesmo e as minhas utopias
e nem sei se são compartilháveis
mas
teimosia
rebeldia
ignorância
porque é assim que tem que ser
faço
- minha utopia definiu -
e ela
basta 
se bastando
se masturbastando
até o momento em que
bastardas
morrerão
e mais uma vez
eu renascerei.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Balões e estrelas

Balões e estrelas dividem meu céu
pairando perto da Lua soberana
sendo transpassados por aviões e palavras
no céu escuro
sem nuvens
eu observo
concanteno pensamentos
e
dedicado ao fluxo
fluo como os balões
Lá estão
ante as estrelas e Marte
Marte que vejo de longe 
brilho vermelho de guerra
que longe diviso
distante
Fogo no balão que passei por Marte
iluminado pela Lua
fogo no meu interior
que, não resistindo à força 
de Plutão,
que num não me arrebata,
me bate na cara!
Então fogueio
explodindo em chamas coloridas de festa
adornando a Lua e as estrelas
fogueio
queimando meu fogo que agora é água
Águas profundas
Pântano que navego com um balão aceso ao lado
penetrando
o universo que habito em mim.
Saio da viagem e ainda os balões e as estrelas e os aviões dividem o céu
Fui
voltei
mas ainda estou lá
Estando aqui estou lá
Porque sou o lá
o dó
o ré
o mi
o fá
o Sol,
a Lua,
os balões,
os aviões,
os fogos,
as águas,
as estrelas...
Sou tudo isso porque não caibo em mim
e quando não enxergo nada além disso
subo num balão
e deixo que seu fluxo me exploda novamente
para que
das cinzas
(e novamente)
eu renasça.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Processamento

Comecei a amar com o estômago
Fritando no bile
os primeiros olhares apaixonados
os primeiros beijos
os primeiros "eu te amo"!
secando as horas de sono
e processando as palavras todas
mancomunadas
as melosas
as meladas
as tortas
as que são nada
E amei 
com tanta força!
que meu estômago reclamou
avisou
inchou
eu caguei 

pra tudo.

Ode/Oração

Fascínio
Lasciva
Grande e rosa energia do Amor
Chama que dança no peito
como uma vela de fogueira
iluminando toda a escuridão
consumindo todos os julgamentos
Grande e Pura
vinde com vosso poder glorioso
arder no peito de cada ser humano
Força devastadora,
abra nosso cardíaco e aumente nosso coração de tamanho
transmutando toda a maldade
abrindo as portas da consciência
para que ela irradie 
a todos que se aproximarem de nós
Grato pelo ensinamento.
Assim seja.
Amém.

domingo, 30 de março de 2014

Numa conta matemática nos abandonamos

Tem cara de fim
Tem gosto de fim

Rumo ao fim

É fim ou é começo?
é inominável
é inenarrável
é um coração dividido que 
só 
pode 
escolher 
um 
caminho
é isso.

Tem que ser.

Tem salamandras habitando o estômago
e muita razão no peito
e muito julgamento
é uma miscelânea sem jeito
com jeito que só pode ser dado
com a 
resolução
revolução
resolução
revolução
revolução que é solução
resolução que é revolução
e soluciona
e resoluciona
e soluciona
e resoluciona
e soluciona de novo
e resoluciona depois
então não ta solucionado     porra!
nem revolucionado!

Mas essa revolução acabou
Paz, eu peço...
Paz...
Bandeira branca, amor

A visualização de tanta
abstração
traz a resposta ao enunciado,
- uma conta matemática -
é assim que nos deixaremos
numa conta matemática


Se nos +
x, pois, nossas questões mal resolvidas
Pois não se / aquilo que não se pode x
E nós dois já fomos - demais
por aquilo que você insiste em se +
____________________________________
                             0

quarta-feira, 26 de março de 2014

Issismo

O amor entrou pelo quarto e ele o matou a facadas. Em seguida assou a carne e comeu. Só depois se lembrou que era vegetariano. Maldito relacionamento. Levou o amor. Levou a alegria. Levou até o vegetarianismo
Assassino de vegetarianismos!
Quanto tempo levaria pra ele comer carne de novo? Pra ele comer carne. Pra ele comer...?
Indiferente, pôs música de balada e ouviu com cara de tédio na frente do computador. Sem sofrimento, sem dor, sem amor. Vez ou outra ele cuspia palitos de dente em um dos balões coloridos que pairavam acima de sua cabeça. Eles estouravam, mas isso não trazia alegria.
Culpa? Medo? Nada... balão balão balão...
A cor escorria das paredes e ele permanecia ali, com o queixo apoiado no cotovelo diante da tela do computador, era a única coisa que tinha luz. Balão balão balão... último balão...
Evaporou
A carne se contorcia em seu estômago, mas ele não vislumbrava momento em que pudesse vomitá-la.
Ou vomitar-se.
Ele mesmo causou-se mais enjoo que a carne mal comida.
A luz acabou
A carne não voltou
Não voltaria

Até a própria carne processar a outra, ele seria uma ameba com cérebro, tatuado na rotina de não fazer absolutamente nada até que desistisse de não fazer absolutamente nada.

Contaminação

Eu amo e desamo
fácil
mas não é leviano
é intenso
é profundo
é um apego desapegado que
quando vem
me leva embora
e põe meu cérebro pra correr
como um rato de laboratório
atrás do coração
até que seja satisfatório
mas
quando vai
vai tarde que já me consumiu demais!
Me excito com a nova possibilidade
e agradeço o que passou
identifico o que ficou
e dou passagem pra que
talvez
venha um novo amor

Manifesto lírico-poético da alma inquieta quase perturbada e totalmente apaixonada pela vinha da vida

O fantasma da tua ausência começou a dar sinais de que está se cansando
Uma luz o chama para o alto
para uma revisão de acontecimentos
que pode
de uma vez
talvez
levá-lo à extinção
Não vibro
não vibro por nada
ou não quero vibrar
Quero deixar essa luz fazer o seu trabalho
brilhar à sua maneira
para que esse fantasma
vire matéria etérica inofensiva-dor-temporária
ou Presença
Sua presença
em mim
Oh God!
Estou a ponto de dar um salto na vida
à partir das próprias escolhas
e sua
sua decisão!
Tem que ser sua!
E também estou a ponto de não ter/ser nada
do que eu esperava
com o nosso tudo
Você pode vir
ou pode ir
...
e eu?
Pra onde eu vou se você ficar e não vir?
Como eu fico se você vir e eu ficar?
Firmar!
o pé na terra
na Terra
ou
simplesmente
e não facilmente
voar
pelo ar
pelo mar
dessa vez sem intencionar

Contrariando este poema
vou esperar
e não resolver nada
Dessa vez eu não vou resolver nada
Só ser
Só estar
enquanto esse fantasma me assombra

Mesmo que eu acenda velas
eu o pressinto
sinto
e o vivo todos os dias
Nova vida
O tempo todo
o tempo todo nova vida
vida e tempo
tudo novo
ao mesmo tempo
excitante/ assustador
sem cobertor
sem segurança
no meio da selva
só seu corpo pra me aquecer
e o fogo que arde no coração
crepitando
paixão?
Cabeça, não crie dúvidas agora
Não agora que a vida está pra mudar
Não crie
Não crie
Só crie
E viva...
Viva a nova vida
Viva o recomeço
A Verdade e a Justiça
vivas!
E eu vivo
vivendo a vida
vivo atravessando a vinha
e me embriagando com bobagens significativas sem nenhuma importância
E essa vida
sem semelhança alguma com o que passou
me vivifica
Eu peço
- fica!
Mas não hesite se não quiser ficar
eu posso suportar
como suporte esse amor/dor até agora
com drama
sem drama
e verdade
Venha
ou

Mas, saiba, você já ficou
você já está
e me deixou

assim!
Embriagado
de tanta lucidez que até assusta
pois,
dessa vez não é um barco de cachaça que me leva
é um ano de ayahuasca
que me desperta a cada dia
e me põe espantado comigo mesmo
vomitado ou não
eu te tenho no coração
na inspiração
e na aspiração a ser
o melhor pra você
o melhor pra mim
no fim
só estou em busca do melhor
e para isso te apresento o meu pior
para que ele sirva para algo
que eu não posso explicar
Meu coração ta na cabeça
E a mente no peito
e
desse jeito
eu me apresento
Bobo, escroto, romântico e atrapalhado
não vou rimar com apaixonado
(já rimando!)
vou rimar com impressionado
que é assim que me sinto a cada dia do teu lado
Sendo e estando
meu e seu

Viva a arte!

segunda-feira, 17 de março de 2014

Momento

Pinto aqui com as palavras
a beleza do teu corpo estendido na minha cama
parado o tempo




sem brisa
sem movimento
tão
somente
este momento
O verde dos teus olhos cintilando
e a escultura divina e sua Presença
ali
deitada
como uma pintura grega
E eu me sentindo realizado
embevecido do teu amor
e seus líquidos
róseos
eu todo molhado
exalando este líquido
te olhando como um rei
como um artista diante da sua melhor obra
me sentindo poeta
romântico
e você,
ensaboado já
enquanto eu me derreto neste papel
Tentando por pra fora o que ta dentro
porque não é suficiente
este meu humilde recipiente
está suportando mais do que eu achava que podia
Talvez por isso que eu seja incapaz de pintar
Pois, se pudesse, certamente
eu te faria
e aí não haveria horas,
não haveria dias
eu seria só seu
pertencente a este quadro
como ainda estou neste momento...

sexta-feira, 14 de março de 2014

Veneno

Amo mais do que achava que suportaria
E amo com tanto amor
que quando me encho de você
transbordo em cada lembrança
E esse líquido escorre do meu róseo
Coração
e eu o bebo
como Shiva bebeu do veneno
e salvou seu mundo
Eu me enveneno
e me crio a vida
Surpreso por suas armadilhas
você me pegou
e eu te peguei,
Vida
Hoje,
contigo,
até me comparo a Shiva
grato por me transformar num deus,
meu anjo portador da luz
meu demônio divino
despertador das minhas fogueiras
atiçador das chamas
meu amor
Amor...

terça-feira, 11 de março de 2014

Lembrete

Manter a vibração elevada, mas
aceitar a própria humanidade
Crer no melhor e na prosperidade
e
sobretudo
ter leveza e fluidez
Se enrijecer a coluna avisa
Dançar com as estrelas
e se libertar de qualquer coisa
que impeça a conexão consigo
Nunca se esquecer disso!
E se esquecer, se perdoe
Mas lembre-se de se reconectar
algo,
certamente,
vem pra avisar
HUNAB KU

sábado, 8 de março de 2014

Antes que a camomila faça efeito

Sofro de amor porque não tenho mais o que fazer
Meu quarto
antes nosso ninho de amor
se tornou um calabouço
onde eu amargo
exageradamente
a tua ausência

Mesmo a lua la fora explodindo de beleza
eu a contemplo taciturno
os fios do meu cabelo sentem falta da tua mão carinhosa
cada pedaço do meu corpo sente falta da tua presença

Meu coração é só dor
e alegria:
Mesmo longe
estás comigo
Mesmo perto
sinto falta de mais
pois
sei que na hora seguinte
meu peito irá gritar
pois você irá partir
e só Deus sabe quando vamos nos reencontrar

Por isso convido a minha casa
para chamá-la de sua
Para que meu quarto volte a existir
e para que a lua fique mais interessante
i miss you

terça-feira, 4 de março de 2014

Frag men ta do so mos

Sinto a sua falta                                           Sinto a sua falta                               Sinto a sua falta




                  Sinto
 
                                  a

                                                       porra
                                                     
                                                                                                 da sua falta


     Me embebedo de água




                                        sentindo
   


                                                                        a

                                                                                                 porra

                                                                                                                             da sua falta


E vou





                                  dormir
                                                só
                                                        sentindo
                                                                                         a

                    porra

 
                                            da

                                                                                  sua falta



frag

                                          men

                                                                           ta
                                                                                                         do

so
  mos


eu

                                     você

                                                                             e a

                  porra


                                    da

                                                            sua

                                                                                                                                    falta...

sábado, 1 de março de 2014

O que eu faço com esse amor guardado?

Minha paixão é um crocodilo orobórico
rasteja na lama das circunstâncias
doído e doendo
por ter o outro preso 
preso= não livre
em sua segurança

Venha pra fora
caralho!
Coragem e fé pra restaurar essa vida
comida
por outro
explorada
por outro
teus calos gemem

mas não como você

gemem porque lhe arrancam o que você pensa ainda ter

E eu aqui
bolando teorias
escrevendo histórias no éter
Deixei de ser anfíbio
porque não consigo habitar dois mundos
mesmo que quisesse
escolhi a humanidade
E amo
amo eu mais que você
Embora pareça que não
Embora sinta que não
É assim...

Graças a Deus é assim!

Sendo, pois, portador de uma tocha gigante 
cuja atual chama tem o potencial pra acender incensos 
e apenas incensos
o que seria de minha mão se eu preferisse esse fogo? 

Escolho a tocha
e corro com ela como um atleta
sem linha de chegada
no meio da floresta
orgulhoso
incendiando candelabros que se apresentam
incendiando fogueiras
incendiando incêndios
em nome da chama pequena
em nome da coragem
em nome da cura
em nome desse remédio que me adoece.